A lei dos homens

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Troglô não entendeu nada. Tanto que, bufando, procurou o professor Afronsius para larvar seu protesto. No dedo de prosa com o vizinho de cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha, Natureza Morta também ficou boiando. Pediu detalhes.
Professor Afronsius explicou: Troglô é como os amigos mais próximos chamam o Troglodita, um vizinho da esquina direita.
– Troglodita?
– Isso mesmo. Prenome registrado em cartório. E parece que o sobrenome é Obtuso Lorpa.

Mata e não é executado

Troglodita, ou Troglô, foi tomado pela indignação ao ler a notícia “Breivik é condenado a 21 anos de prisão”.
– Quem? Joga em que time, qual posição? – interveio Beronha, que pegou o recado na escada.
Professor Afronsius e Natureza explicaram que se trata do ultradireitista Anders Behring Breivik, responsável pelos atentados cometidos na Noruega há um ano, causando a morte de 77 pessoas. Daí a revolta do Troglodita, ou Troglô: “Matou 77 e é condenado a apenas 21 anos de cadeia? E num país de primeiro mundo. É o fim da picada!”.
Ocorre que, para variar, o vizinho da tal esquina só tinha lido o título da matéria. “O texto era muito longo, cansativo”. Pacientemente, o professor Afronsius explicou que, na Noruega, não é aplicada a pena de morte. E, no caso, foi aplicada a prisão prorrogável, ou seja, o condenado poderá ficar trancafiado indefinidamente. Prisão perpétua. O tribunal de Oslo tomou a decisão por unanimidade: homicídio proposital “em circunstâncias especialmente graves”. É a lei.

Julgamento, não linchamento

Professor Afronsius bem que tentou explicar a diferença entre julgamento é linchamento. Desistiu. O interlocutor declarou não ser advogado. Sugeriu, então, que bastava ir ao dicionário: “Linchamento – justiçar ou executar sumariamente, sem qualquer espécie de julgamento legal, segundo normas instituídas por William Linch (1748-1820), nos EUA”.
– Linchamento, aliás, já tinha sido uma prática comum na antiguidade. Basta consultar o Novo Testamento.
Mas Troglodita, ou Troglô, não se deu por satisfeito:
– Eu já não tô entendendo o tal julgamento no Supremo, onde um ministro pede a condenação e outro vota pela absolvição, agora muito menos…

ENQUANTO ISSO…