Era o mais antigo diretor de cinema em atividade no mundo. Manoel de Oliveira morreu dia 2, aos 106 anos, em sua casa, na cidade do Porto. Não satisfeito com o breve registro feito pela BBII – Briosa, Brava e Indormida Imprensa -, professor Afronsius recorreu aos seus arquivos, onde a Calçada da Memória, de José Geraldo Couto, ocupa lugar de destaque – e é ampliada toda a segunda-feira, quando circula a revista Carta Capital.
Na edição de 27 de agosto do ano passado, José Geraldo cita os filmes de Manoel já à disposição em DVD: Palavra e Utopia (2000), Belle Toujours – Sempre Bela (2006) e Singularidades de uma Rapariga Loura (2009).
Câmera na mão em 1929
Conta José Geraldo que, nascido no Porto, filho de um industrial, “Oliveira comprou em 1929 uma câmera 35 mm portátil e com ela rodou o curta Douro, Faina Fluvial, documentário poético sobre a sua cidade”.
Os cinéfilos ficam sabendo ainda, graças à Calçada da Memória, que, em face da precariedade do cinema em Portugal, Manoel “só realizou seu primeiro longa-metragem de ficção em 1942, Aniki Bóbó, retrato realista de uma gangue de meninos delinquentes”. E somente 20 anos depois faria o segundo longa, “Ato de Primavera, sobre uma aldeia que representa a Paixão de Cristo segundo um texto do século XVI”.
Colonialismo e a vã glória de mandar
Ainda do texto de José Geraldo: foi com mais de 70 anos que Oliveira realizou 29 dos seus 32 longas de ficção. Adaptou autores lusos como Camões e Camilo Castelo Branco. Aos 80 anos realizou “um de seus filmes mais ousados, a ópera alegórica Os Canibais, e em seguida discutiu o colonialismo português em Non, ou a Vã Glória de Mandar”.
Dirigiu Marcelo Mastroianni, Catherine Deneuve, John Malkovich, Michel Piccoli. O curta O Velho do Restelo, que foi exibido em agosto de 2014 no festival de Veneza, “traz o encontro, no século XXI, entre Camões, Dom Quixote e Camilo Castelo Branco.”
E destaca a Calçada da Memória: “Aos 105 anos, o cineasta português ainda surpreende”.
Título do artigo: A sina duradoura.
ENQUANTO ISSO…
