Em 1929, um documentário mostrava o rápido crescimento da capital paulista. São Paulo: A Sinfonia da Metrópole, dos diretores húngaros Adalberto Kemeny e Rudolf Lustig, é alucinante pelas imagens e a montagem. Baseado em Berlim – Sinfonia da Cidade, de 1927, não deixa de fora o corre-corre do cotidiano. Tudo aceleradinho. Estilo Chaplin.
O filme de Kemeny e Lustig foi retirado do fundo da memória pelo professor Afronsius, que se apressou em explicar para os atônitos Natureza Morta e Beronha:
– Vi o filme, mas não foi na estreia. Assisti décadas e décadas depois, na Cinemateca do Rio de Janeiro.
Feita a ressalva, justificou ter citado o documentário, no dedo de prosa junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha. Com o boom – ou bum! – imobiliário em Curitiba, a barulheira causada pela construção de um prédio tem pipocado nas janelas de sua casa. Das 7 da manhã em diante.
– Fiquei a imaginar São Paulo quando da exploração dos dos espaços que restavam. Embora mudo, o documentário permite imaginar o bombardeio sonoro.
Instrumentos nada musicais
Já que falou em sinfonia (de uma metrópole em expansão), foi atrás de informações para identificar os diabólicos instrumentos que produzem uma sonata de estourar os tímpanos. E detonar os nervos.
De um profissional da área (construção civil, não algaravia produzida por ferramentas), obteve um diagnóstico sobre os instrumentos e o som produzido pelos componentes dessa orquestra que não tem ou dá descanso. Ei-lo:
– Betoneira. Mais ou menos um reco-reco mais grave, roum-roum, roum-roum. roum-roum, contínuo;
– Furadeira. Mais aguda, inicialmente inaudível, aplicando a velocidade e força, aumentando a decibéis ensurdecedores, iiuuuuuuuiiiuuuuuuooooooooooooooo;
– Motores do elevador. Sonoridade constante, suportável, e incessante brroobrrooobrroobrororo;
– Ruídos da movimentação do elevador subindo e descendo, ranger dos ferros vibrando e atritando, brumbrumbrumbrum;
– Makitas. Som agudo. Seria como serrotes elétricos, com alta rotação, barulhos fortes, curtos e agudos, tiuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmm;
– Gritos constantes dos operários, externando suas alegrias em vencer árduas tarefas diárias, pois sabem que são nobres guerreiros e, acredite, os gritos vão de iiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuu deu certo! até iabababadouuuuuuu!
– Lixadeiras elétricas diversas. Barulho grave, forte, mas não alto, porém constante: shuushushushushu;
– Lixadeiras manuais diversas, som neutro, suave e constante – shuashuashua;
– Martelete, sempre agudo e forte, constante, roaroaroaroaroaroa;
– Rompedores de concreto, próximo ao martelete, forte, curta duração, e oscilando entre muito grave e muito agudo, brabrabra;
– Sirena, ou sirene, forte e aguda – tiummmmmmtiummmmmmmmmm;
– Martelo, serrote, colher de pedreiro, barras de ferro caindo, madeira quebrando, peças de concreto despencando, vento cortando as paredes sem proteção, enfim, uma ópera para a qual não se precisa de convite para acompanhar.
Ponto final.
PS: Colaborou, de maneira fundamental e silenciosamente, o amigo João Chemin, o Mano, um engenheiro de obras não só no terreno material.
ENQUANTO ISSO…
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