Na sexta-feira, o Rio de Janeiro bateu mais um recorde de temperatura: a máxima chegou a 42,8 graus em Santa Cruz, Zona Oeste, superando os 42,1° graus registrados no dia anterior em Marambaia, também na Zona Oeste. A temperatura recorde não ocorria – num mês de outubro – desde 1915.
A propósito de tempo quente, professor Afronsius, abanando seu leque japonês, citou Rio, 40 Graus, o primeiro longa-metragem de Nelson Pereira dos Santos, realizado em 1955.
Censura entra em cena
Em agosto de 55, a censura liberou o filme. Para maiores de 10 anos. Um mês depois, o chefe de polícia, coronel Geraldo de Menezes Cortes, interveio, proibindo a exibição do filme em todo o território nacional. Ao justificar a censura, alegou que não fazia 40 graus no Rio e o filme tinha como objetivo “a desagregação do país”, já que, segundo ele, só apresentava “os aspectos negativos da capital brasileira”. Mais: foi feito com tal esmero “que serve aos interesses políticos do extinto PCB – Partido Comunista Brasileiro”.
A imprensa (no caso o Correio da Manhã e a Última Hora) revelou que o coronel não tinha visto filme. A proibição viera de uma denúncia anônima. O PCB, embora banido desde 1948, estaria por trás da produção do filme.
Artigo publicado na edição de março de 2010 da Revista de História da Biblioteca Nacional, assinado pelo pesquisador Alexandre Octávio R. Carvalho, vai além:
– A justificativa do diretor de Censura, Lafaiette Stocker, endossando a decisão do coronel, era ainda mais pífia. Ele argumentava que uma cena poderia “desagradar a uma nação amiga”, referindo-se à participação de duas personagens representando turistas americanos.
Contrastes – de ontem e hoje
Ainda do texto do pesquisador, na RHBN:
– Passado em um domingo de verão, o filme traz como personagens principais cinco meninos negros que vivem no Morro do Cabuçu, na Zona Norte, e vendem amendoim em pontos turísticos da cidade, como o Corcovado, o Pão de Açúcar e Copacabana. Os atores mirins foram escolhidos no próprio morro. A mistura de ficção e realidade trouxe às telas os contrastes sociais que incomodavam muitos setores da classe média, cuja cultura rejeitava a pobreza como tema de cinema.
Nada de novo no front.
ENQUANTO ISSO…
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