Na TV, a nova fornada de comerciais do Posto Ipiranga. Mantendo, por supuesto, o personagem chave: o Batata, na verdade Antonio Duarte de Almeida Júnior, um químico industrial de formação que ficou famoso com o bordão “pergunta lá no posto Ipiranga”. Sacada da agência Talent.
Antes dele, Antônio Carlos Bernardes Gomes também fez enorme sucesso nessa área. Antônio Carlos? É, o Mussum.
Era uma campanha da Volkswagen (“Das auto”). Esbanjando simpatia com o seu vasto sorriso, festejava um lançamento da VW:
– 200 cavalos. É cavalis pra cacildis!
O sucesso foi tão grande que logo a carioca Brassaria Ampolis tratou de lançar a segunda cerveja do Mussum: depois da Biritis, viria a Cacildis.
Na época da Cacildis, há quem tenha recorrido ao próprio Mussum para comemorar:
– É, de fato. Suco de cevadiss deixa as pessoas mais interessantiss.
Aforismos nos blogs do além
Em setembro de 2011, a revista Carta Capital publicava os excelentes Blogs do Além, de Vitor Knijnik, que incluiu um Blog do Mussum, “que voltava do além para explicar seus brilhantes aforismos”.
– Eu, honestamente, fiquei esperando que algum escritor (ou professor de filosofia) mais atento se debruçasse sobre minha vasta coleção de frases lapidares. Talvez minha maneira peculiar de usar o idioma tenha obscurecido a riqueza do material.
Mas algumas das grandes questões estão lá: o que é a realidade em si mesma? O que é essencial? O que é certo e o que é errado? Cansado de aguardar por algum intelectual que não tenha mais o que fazer, decidi eu mesmo realizar a tarefa.
E, citando Wittgenstein, diz acreditar que os problemas filosóficos tradicionais “são resultantes de confusões linguísticas”. Adianto aqui um pouco do livro que em breve pretendo publicar, Mussum e a Filosofivis do Mé.
Mussum e sua prévia do livro – livro ou tratado?
– Se suco de cevadiss atrapalha seu casamentiss, abandone sua mulher, cacildiss!!
– Vai caçá sua turmis!
– Casa, comida, três milhão milhão por mês, fora o bafo.
– Tá tudo muito parádis? Toma um mé que o mundo vai girarzis.
“Sou mesmo um pândego”, concluía o comediante.
O dito popular “casa, comida e roupa lavada” expressa o denominador mínimo para que um indivíduo mantenha sua dignidade e uma vida confortável. Na versão paródica, a expectativa é quebrada pela inclusão de “três milhão milhão por mês, fora o bafo” e supressão de “comida e roupa lavada”. Essa inversão levanta uma questão fundamental da filosofia: o que é essencial e o que é supérfluo?
Mussum e a teoria da relatividade
– Tá tudo muito parádis? Toma um mé que o mundo vai girarzis!
“Com essa frase, creio que consegui explicar de uma maneira bem simples a teoria da relatividade. Há também aqui um paralelo com o mito da caverna de Platão. Onde o mundo parado é a sombra projetada na parede e o mé representa a realidade ou a libertação”.
Antônio Carlos Bernardes Gomes nasceu no dia 7 de abril de 1941, no Rio de Janeiro; morreu a 29 de julho de 1994. Tinha 53 anos. Cacildiss! Viver é (realmente) perigoso.
ENQUANTO ISSO…
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