É cada vez maior o embarque de brasileiros em busca do sucesso no futebol europeu. Quando batem na trave, caem em outros mercados, não tão atraentes. Muita gente torce o nariz, acha até falta de patriotismo (sic) ou pura aventura. O fato é que, xenofobia à parte, não é de hoje essa tentação. E em todos os setores de atividade.
Pensando nisso, Natureza Morta acionou a (também) brava e indormida seção Achados& Perdidos, exclusiva do blog, e obteve, entre outros resultados, o texto “A estrela voltou”.
– O cais da Praça Mauá, no Rio de Janeiro, ficou pequeno no dia 10 de novembro de 1940. O policiamento foi reforçado e montou um enorme cordão de isolamento. Mas a multidão era muito grande. Repórteres e fotógrafos acompanharam toda a movimentação, e as rádios transmitiam aqueles momentos de expectativa.
De repente, o navio Argentina apontou na curva da Ilha das Cobras. A multidão começou a delirar. As portas do Armazém de Bagagem foram fechadas porque o povo, que não cabia mais na Praça Mauá, tentou alcançar o cais, utilizando-se de todos os portões possíveis.
O Argentina foi se aproximando lentamente, e a multidão pode distinguir, a bordo do navio, a estrela. Carmem Miranda voltava ao Brasil! A gritaria foi infernal.
“Americanizada”?
Conta ainda o livro 80 Anos de Brasil, editado pela Souza Cruz, que César Ladeira comandou, a bordo, a transmissão que era ouvida pelo povo. Passou o microfone a Carmen, que, muito emocionada, conseguiu dizer poucas palavras: “Povo carioca… estou muito satisfeita. Mais ainda pela manifestação que vocês estão fazendo”. Mas não conseguiu continuar.
A chegada tinha se transformado em festa, um carnaval. Carmen foi arrastada até uma baratinha da polícia, e acabou desfilando pelas ruas da cidade, entre confetes, flores e serpentinas.
Era a resposta do povo às críticas que se faziam a Carmen Miranda por ter ido morar nos Estados Unidos, e fazer sucesso em Hollywood. Dizem que ela tinha se “americanizado”. Mas ela estava acostumada a ser criticada. Antes era a cantora de repertório ruim, interpretando “sambas negróides de mau estilo”.
Decepção e adeus
A primeira apresentação de Carmen, no retorno, foi no Cassino da Urca, onde foram repetidas as críticas à americanização que ela fazia dos ritmos brasileiros. Aplaudida friamente, chorou. E decidiu ir embora do país, decepcionada.
Antes de ir, no entanto, gravou Disseram que voltei americanizada, uma resposta às críticas. Em um trecho ela disse, com seu jeito inimitável, que continuaria sempre dizendo eu te amo e nunca I love you.
Maria do Carmo Miranda da Cunha ganhou o apelido de Carmen no Brasil. Seu pai gostava de óperas.
De volta aos EUA, gravou a marca de seus sapatos e mãos na Calçada da Fama do Teatro Chinês, Los Angeles. Morreu em 1955, aos 46 anos, em Los Angeles. O corpo foi trazido ao Brasil e sepultado no Rio.
ENQUANTO ISSO…
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