Uma boa leitura leva a outra. Assim, depois de devorar o texto do jornalista José Carlos Fernandes na Gazeta do Povo, As confissões das paredes do Ahú (edição de 28 de outubro), há quem tenha retirado da estante o livro O Prisioneiro da Cela 310, de Milton Ivan Heller, Instituto da Memória, 2011.
É, o hoje empresário Valmor Weiss também esteve atrás das grades do Ahú, presídio que em breve será posto abaixo.
Catarinense de Rio do Sul, onde nasceu a 8 de outubro de 1937, Valmor enfrentou perseguição em dose dupla com o golpe civil militar de 64.
Afinal, além de jornalista na Última Hora, edição do Paraná, era sargento do Exército. E assinava na UH a coluna Plantão Militar, que também era estampada nas demais edições regionais da rede de jornais de Samuel Wainer. O objetivo, no caso curitibano, era divulgar as atividades da Associação dos Subtenentes e Sargentos do Exército, da qual Valmor acabaria sendo eleito vice-presidente.
O sargento diante do general
Em 1964, o general Ernesto Geisel comandava a 5.ª Região Militar, na capital paranaense. Walmor foi preso como “subversivo” logo após o golpe. Acusação: insuflar a indisciplina nas Forças Armadas.
Weiss, o preso político da cela 310, recordaria anos e anos depois, que eram tempos de radicalização, de ódios exacerbados e de violência por todos os lados.
– Adversários eram inimigos que deveriam ser exterminados e a UDN batia à porta dos quartéis em busca de apoio para derrubar o governo.
Num dos trechos do livro, o encontro do então sargento com o general então ainda não presidente.
No QG da 5.ª Região, que depois viraria o Solar do Barão, Valmor defrontou-se com o general Geisel.
– Sabemos da sua participação no movimento dos sargentos e o senhor está conturbando o ambiente dentro do Exército.
– General, eu sempre tive orgulho de ser militar e participamos de reuniões para evitar que outros queiram deturpar o movimento, que é legítimo.
Não adiantou. Valmor pegaria cadeia no Ahú por quebra de disciplina e participação em reuniões políticas e subversivas. Ao ser dispensado pelo general, a ameaça que se cumpriria:
– Você não perde por esperar.
De fato. Não deu outra.
Após tortura e ameaças de fuzilamento, o sargento Valmor Weiss cumpriu 16 meses de prisão incomunicável, até ser libertado por decisão do Tribunal Superior Militar (STM).
ENQUANTO ISSO…