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Procedentes ou não, são muitos os casos a respeito do peculiar comportamento do curitibano. Os registros abundam…
– Epa! Olha o nivél… – interrompe Beronha.
Retomando a palavra, Natureza Morta comentou com o professor Afronsius que muito já se disse sobre o jeitão curitibano de ser: tímido, retraído, não raras vezes, por conta disso, apontado como mal-educado. E não apenas em seu quintal. Várias histórias, mundo afora, confirmam isso. Que o diga o guarda de trânsito português que até hoje aguarda a visita de um curitibano com “o melhor bacalhau de Lisboa” à mesa.

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Bacalhau à espera

O solitário da Vila Piroquinha contou o episódio (verdadeiro), ocorrido há algum tempo. Curitibano, próspero comerciante, fazia turismo em Lisboa.
Lá pelas tantas – ir a Portugal e não comer bacalhau deve ser como ir a Roma e não ver o papa -, decidiu pedir informação. Um simpático guarda de trânsito estava nas proximidades.
– Com licença. O senhor poderia me informar onde posso comer o melhor bacalhau de Lisboa?
Prontamente, e abrindo um sorriso, o guarda respondeu:
– Certamente. Lá em casa.
E anotou no que seria o bloquinho de multa o endereço, fornecendo o seu nome e o da patroa.
– Amanhã estaremos à espera.
– E aí? Deve ter sido um encontro maravilhoso… Uma espontânea confraternização luso-brasileira.
– Que nada. O curitibano não apareceu. Deu o cano no fidalgo lisboeta. De volta, ao contar o caso, justificou: achei que a gente iria incomodar, dar muito trabalho…

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Sapato de couro importado

Em contrapartida, Natureza reportou-se a outro caso. Agora no Japão. Um pequeno grupo de jornalistas brasileiros, entre eles um curitibano, tinha à disposição um guia, funcionário do governo. A visita era a convite da Casa Imperial.
No terceiro dia, o curitibano comentou com os colegas que o sapato do guia estava pedindo água, mal se mantinha nos pés. Lá, como se sabe, couro é um luxo. O grupo atendeu a sugestão do paranaense e, então, descobrindo o número do calçado, decidiu presentear o guia, no último dia em Tóquio: um par de Samello Terra, praticamente novinho em folha.
– Na verdade, foram dois pares. O curitibano deu o que tinha de reserva (“eu quase não uso”), e outro jornalista decidiu fazer o mesmo, após empreender uma busca na mala de viagem.
Diante do inesperado presente, o guia quase caiu fulminado.
– Não sabia o quê dizer, como agradecer. Mesmo falando japonês.

Do pinhão a Ipanema

Finalizando, e sem nenhuma pretensão de decifrar a esfinge curitibana, Natureza arriscou um palpite: o curitibano é, antes de tudo, um tímido.
Vai daí que já foi brindado com comentários como o do jornalista Fernando Pessoa Ferreira, o Fernando Pernambuco, que foi superintendente do Teatro Guaíra.
– Os curitibanos são uma estranha tribo que se alimenta de pinhões, mas reside em casas iguais às nossas.
A frase, escrita em 1967, abria a crônica “Curitiba, a fria”.
Já em Memórias do Cárcere, Graciliano Ramos, na página 170 do segundo volume, faz a descrição: “Os paranaenses, graves, metódicos, arrumavam-se para descansar da melhor maneira, examinavam lentos a sala acanhada, permutando cochichos”.
Em 1985, a campanha Bichos do Paraná, promovida pela RPC TV e Banco Bamerindus, tomou conta do Brasil.
Com o recado da música de João Lopes, “Bicho do Paraná”:
– Eu não sou gato de Ipanema/Sou bicho do Paraná.

ENQUANTO ISSO…

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