Recentemente, na transmissão de uma partida de futebol americano, o jogador chutou a aquela bola de estranho formato e a dita cuja não chegou até a trave, aquela trave igualmente estranhíssima, posto que tem as “pernas” invertidas. Um lance de 40 jardas, lembrando, para poupar Beronha e facilitar o entendimento, que uma jarda quase equivale a 1 metro.
– Faltou feijão! – comentou alguém da plateia no Bar VIP da Vila Piroquinha.
Ao mesmo tempo, para espanto geral (no boteco) o locutor largou o mesmo comentário:
– Faltou feijão…
De A a Z
Sobre o assunto, comentários e vocábulos tão comuns em certos esportes durante um bom tempo, Natureza Morta recorreu a “Futebol e Palavra”, de Ivan Cavalcanti Proença, José Olympio Editora, 1981, graças à Seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog.
No capítulo intitulado “Mundão vocabular”, o autor lista uma série de verbetes, começando por “abafa” e terminando com “zona do agrião”, ambos ainda em plena circulação no futebol.
Há outros, no entanto, que sucumbiram com o passar das décadas. Caso de “xiripa”, que cedeu o lugar para “trivela”.
Professor Afronsius, que, aliás, possui um exemplar do livro, refrescou a memória de Natureza citando “velocidade burra” (velocidade do futebol europeu/futebol-força), “voltador oficial” (jogador orientado a voltar sempre para ajudar a defesa), “vagabunda” (a bola), “triscar” (bola que passa rente à trave – ou atingir um adversário discretamente), “subir na sobreloja” (subir no segundo andar), “ratazana” (juiz péssimo, aparentemente venal)…
Aí, o professor pediu um intervalo técnico para refrescar a garganta.
Segundo tempo
De volta, o vizinho de cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha disparou: “placê em bola divida” (jogador medroso que chega sempre em segundo quando se trata de dividir a bola); “ponta de barbante” (jogador, ponta direita ou esquerda, medíocre); “paralelepípedo de Albuquerque” (o comentarista de futebol que só diz bobagens ou não enxerga o óbvio); “ocho” (é o zero a zero); “na bamburra” (jogada, lance, vitória, de sorte); “lacraia de boulevard/bulevar” (torcedor ou cronista fingido, negativista, que gosta de ver o fracasso dos outros); “gaúcha” (drible de pelada que consiste em jogar a bola de um lado do adversário e pegá-la pelo outro; também conhecido como “drible da roça”); e “arquibaldos” (torcedores da arquibancada).
Como o professor Afronsius voltou a pedir uma paradinha, alegando estar esfalfado, Beronha aproveitou para lembrar que, suprema glória, tínhamos também “pose de Sarah Bernhardt em noite de estreia” – na época, estreia com acento – (jogador mascarado ou time que entra em campo muito confiante na vitória).
Apito final, sem os (devidos) descontos.
ENQUANTO ISSO…