– Policial? O seriado está mais para divã em sessão de análise do que para poltrona e pipoca em sessão bang-bang de mocinho x bandido.
O professor Afronsius não esconde que gosta de filmes policiais. Mesmo os de TV. Vai daí que o vizinho de cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha, no dedo de prosa com Natureza Morta, veio com uma queixa. Em questão, Law & Order: Criminal Intent, aquele que tem Vincent D’Onofrio no papel do detetive Robert Goren.
– A cada capítulo está mais cerebral.
Do filão ao vilão
O solitário da Vila Piroquinha, que também tinha assistido o Law & Order, concordou.
– Parece que o filão, não o vilão, da velha fórmula se esgotou. Os roteiristas de filmes policiais buscam saídas cada vez mais desconcertantes. Recorrem aos arquivos de Freud e Jung. A anatomia de um crime virou anatomia da alma. Haja surtos esquizofrênicos, complexo de Édipo, taras e outros desvios…
No filme de terça, um sinal do possível colapso. Era uma história envolvendo dois presidiários. Um branco e um negro. Lá pelas tantas, há referência a Joker Jackson e Noah Cullen.
– Quem? – quis saber Beronha.
São personagens de outro filme, Os Acorrentados (The Defiant Ones), de Stanley Kramer, 1958. Joker Jackson (Tony Curtis) e Noah Cullen (Sidney Poitier) conseguem fugir quando ocorre um acidente com o ônibus que seguia para o presídio. Acorrentados um ao outro, os dois, pela cor, se odeiam, mas um depende do outro para escapar da caçada empreendida pelos policiais. Fortemente armados e com cães. Finalmente, conseguem se livrar das correntes. Percebem, então, que a hostilidade tinha se transformado em respeito – e amizade. Indicado a 9 prêmios do Oscar, levou 2.
– Na época, o filme também deu sua contribuição à luta pelos direitos civis nos Estados Unidos – arrematou Natureza, mas fazendo uma observação:
– Não confundam Os Acorrentados, de Kramer, com Os Acorrentados (Shackles), produção de 2005, de um tal de Charles Winkler. Espero que o roteirista do Law & Order não tenha remetido o espectador para o filme errado.
ENQUANTO ISSO…