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Bons tempos. Do cinema

Futebol? Houve um tempo em que cinema era assunto preferido nas conversas. Os clássicos em pauta. A propósito, François Truffaut escreveu um livro: Os Filmes de Minha Vida, Editora Nova Fronteira, 1989.

Sobre Alfred Hitchcock, o velho Hitch (para os íntimos), comenta Truffaut:

– Foi por muito tempo julgado pelas flores que colocava no jarro e, hoje, percebe-se que as flores sempre foram as mesmas, que seus esforços concentram-se na forma do jarro, em sua beleza.

E, a respeito de Janela Indiscreta (Rear Window), sentencia:

– Há duas espécies de diretores: os que levam o público em consideração ao conceber e posteriormente realizar seus filmes e aqueles que não se importam com isso. Para os primeiros, o cinema é a arte do espetáculo (do sucesso e do lucro) e, para os segundos, uma aventura individual.

Ainda de Janela Indiscreta (com James Stewart no papel de Jeffrie, o repórter fotográfico preso à cadeira devido a uma perna quebrada, e Grace Kelly, “uma prestigiosa moça que gostaria de casar-se com Jeffrie”), diz que é um filme cruel.

– Stewart só assesta seus binóculos sobre os vizinhos em momentos de angústia, quando eles se encontram em posições ridículas ou mesmo detestáveis.

Um filme nitidamente musical

Truffaut frisa ainda que “a construção do filme é nitidamente musical, com temas que se imbricam e se respondem perfeitamente – os do casamento, do suicídio, da perda e da morte – banhados por um erotismo refinadíssimo (a sonorização dos beijos é extremamente precisa e realista)”. Janela Indiscreta “é o filme da indiscrição, da intimidade violada e surpreendida em seu aspecto mais ultrajante: o filme da felicidade impossível, o filme da roupa suja lavada fora de casa, o filme da solidão moral, uma extraordinária sinfonia da rotina e dos sonhos desfeitos”.

E, para explicar Janela Indiscreta, FT propõe a seguinte parábola:

– O pátio é o mundo, o repórter fotográfico é a o cineasta, os binóculos representam a câmera e suas lentes. E onde fica Hitchcock em tudo isso? Ele é o homem por quem gostamos de nos saber odiados.

O comentário foi publicado originalmente em 1954, quando da estreia do filme.

Certa feita, um fã de Hitchcock interrompeu o bate-papo:

– Pode me emprestar o livro? Prometo devolver. Sem fazer suspense

ENQUANTO ISSO…

 

 

 

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