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Brasilino foi à luta
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“Os EUA passam o bastão da soja para o Brasil”. Como explica a jornalista Luana Gomes, da Expedição Safra, com a quebra de safra lá por aquelas bandas, “a agricultura brasileira deve exportar 47% da próxima safra, um volume recorde de 39 milhões de toneladas. Principal fornecedor de soja para o mundo, a agricultura brasileira também assume a vice-liderança no milho, que terá embarques recordes ainda neste ano”.
Ao ler a notícia, na Gazeta do Povo, o professor Afronsius comemorou, embora, como admite, não passe de um mero plantador de pé de milho, couve, salsa & cebolinha de fundo de quintal.

Deixando de ser reboque

Natureza Morta comentou que, aos poucos, vamos rompendo as amarras da dependência e deixamos a condição de reboque dos outros. E, aproveitando, acionou a seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, para voltar no tempo. Ou ao livro “Um dia na vida do Brasilino”. É pequeno, 16 páginas, foi lançado em 1961 e, rapidamente, chegou à sétima edição. Editora Brasiliense. O autor é Paulo Guilherme Martins, que, segundo comentários à época, montou “um breviário viril de civismo”.
Apontado como “mais do que uma sátira inteligente”, o livreto “consegue o retrato fidelíssimo do malsinado Brasilino de hoje”.
Para o colunista Arapuã, da “Última Hora”, Brasilino “é o Jeca Tatu dos tempos atuais”.

Tempos de “Terra em Transe”

Logo de cara, Paulo Guilherme Martins faz duas transcrições:
– “Não existe imperialismo no Brasil”. Carlos Lacerda, na “Tribuna da Imprensa”.
– “Essa história de imperialismo não passa de invenção de falsos nacionalistas que pretendem impedir o progresso da nação”. De “O Estado de São Paulo”.
Eram tempos de efervescência política, magistralmente retratada por Glauber Rocha no filme “Terra em Transe”, de 1967.
“Tipo característico do homem comum, tipo-multidão, Brasilino vive, no período de 24 horas, sob a dependência do capital estrangeiro, desde que desperta, pela manhã, até ir se acamar, à noite”, escreveu Álvaro Augusto Lopes, em “A Tribuna”, de Santos. “Sob a forma de pilhéria, na realidade aqui se encerra sátira feroz contra o domínio do imperialismo econômico, em nosso país”.

Ao sair e voltar para cama

Brasilino toca a campainha, que soa “consumindo energia – energia que é da Light, e, assim, inicia o seu dia pagando dividendos ao capital estrangeiro”; lê o jornal – “lê somente a boa imprensa, a chamada sadia” – e toma café. “Não sabe que o leite que bebe é originário de uma vaca que foi alimentada com farelo Refinazil, da ‘Refinações de Milho Brazil’ (Brasil com Z), que é americana, e que a farinha com a qual é feito o pão é originária do ‘Moinho Santista’, que não é santista e sim inglês”.
E por aí vai. Feliz da vida, acende o seu primeiro cigarro: “Minister, ou Hollywood, um desses da ‘Cia. Souza Cruz’, que não é do Sr. Souza e muito menos do Sr. Cruz, mas, sim, da ‘British, American Tobacco Co.’, o ‘trust’ anglo-americano do fumo”.
No fim do dia, em casa novamente, depois de gastar inclusive a sola do sapato com saltos de borracha “Good Year”, liga o rádio G.E., da General Electric do Brasil, e se deita em colchão de espuma de borracha Foamex, da Firestone do Brasil, repousando a cabeça sobre um travesseiro do mesmo material, “dormindo, feliz, o sono da inocência”.
O livro termina com um PS do autor:
– Como resultado da nova política cambial o Brasilino, também, já não custa mais aqueles 30 cruzeiros. Mas ele está feliz, feliz!…
O preço tinha subido para Cr$ 50,00.

ENQUANTO ISSO…


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