Depois do comentário sobre a guerra do bacalhau, envolvendo Portugal, Noruega, Dinamarca e Islândia, o professor Afronsius, no bate-papo com Natureza Morta, resolveu dar outro mergulho no mar de problemas que, volta e meia, envolve o comércio internacional.
E, voltando no tempo, citou a guerra da lagosta.
– Lagosta? Não conheço… Aliás, é como o bacalhau. Nunca comi. Nem na Semana Santa – atalhou Beronha.
Dando corridão nos franceses
Como registrou a imprensa na época, início da década de 1960, “um inocente crustáceo” quase levou Brasil e França a um confronto militar.
Barcos franceses resolveram bater ponto no litoral de Pernambuco, para pescar lagostas na plataforma continental, dentro do limite territorial brasileiro. A Marinha de Guerra deu um corridão nos “piratas”, enquanto a imprensa francesa, saindo em defesa do direito à pesca, levantava uma polêmica: lagosta anda ou se desloca nadando?
Caso a lagosta nadasse, estaria, assim, em águas internacionais. Caso fosse dada ao hábito de caminhar, estaria, em então em solo brasileiro.
Para os franceses, não havia dúvida que lagosta se mexia nadando. Ou, como afirmaram alguns, “o crustáceo não mantinha contato com o assoalho submarino”.
Um argumento decisivo
No embate diplomático, a comissão brasileira tratou de derrubar a tese. Assessorada pelo almirante Paulo Moreira da Silva, especialista em Oceanografia, foi com tudo, o que não impediu que o clima tenso e carrancudo fosse quebrado por gargalhadas.
Diante da argumentação francesa, de que lagosta tinha de ser considerada um peixe, já que não tocava o território brasileiro, o almirante Paulo Moreira da Silva pediu a palavra.
– Estamos diante de uma argumentação interessante: por analogia, se a lagosta é um peixe porque se desloca dando saltos, então o canguru é uma ave.
A questão da “propriedade” da lagosta em nossas águas foi decidida a favor do Brasil. Sem dar um tiro.
ENQUANTO ISSO…