Diante de absurdos, coisas totalmente improváveis e mesmo impossíveis de acontecer, até mesmo quando o mocinho era Gary Cooper cercado por centenas e centenas de índios, em priscas eras havia um comentário que se tornou comum e recorrente: “É coisa de cinema”. Ou seja, só mesmo no cinema, conversa pra boi dormir, fantasia. O nonsense dos desenhos animados transposto para filmes do cinema dito sério.
A volta ao passado ocorreu na segunda-feira, lá pelas 16 horas (afinal, só amador vai ao boteco para ficar olhando o relógio). O tempo em Curitiba, para não fugir à rotina, deu uma de suas desconcertantes reviravoltas.
Realismo fantástico?
Eis que, Sol a pino, professor Afronsius, Natureza Morta e Beronha batiam papo no Bar VIP da Vila Piroquinha. Sentados à mesa que fica no fundão, enxergavam um recorte da rua ensolarada. A porta retangular do boteco parecia uma tela de cinema. A gente no escuro e a tela iluminada. De repente, garoa fina. Segundos depois, a chuva entra em cena. Chuva seguida de chuva mais forte de braços dados com ventos terríveis.
A cena (“está desabando o mundo”, segundo Beronha) não durou muito. O temporal cessou – ou foi cumprir o expediente em outro quarteirão da cidade -, e o Sol retornou tão forte como antes e, numa passada, o asfalto estava seco. O pessoal asilado sob as marquises voltou a circular.
Professor Afronsius, mergulhando no fundo do baú, ratificou:
– É, é coisa de cinema…
Um toque (genial) de Buñuel
Ainda de cinema, Natureza Morta lembrou um filme de Luís Buñuel. Os personagens estão num restaurante, na Espanha. Conversam diante de um janelão, que dá para a rua. De repente, uma tremenda explosão, que manda um automóvel pelos ares.
Era uma breve referência aos atentados do ETA – não o Esquadrão de Torcida Atleticana, mas o Euskadi Ta Askatasuna (basco para Pátria Basca e Liberdade).
Os personagens olham pela janela e, como se nada de anormal tivesse ocorrido, retomam a conversa. Diante das coisas da Bela da Tarde, foi um recado nada subliminar.
– Há coisa e coisas de cinema.
Para bom ou mediano entendedor, meio take basta.
ENQUANTO ISSO…