Como em boteco o assunto geralmente é futebol, dia desses uma conversa chamou a atenção. Um pequeno grupo comentava os riscos da tradução. Afinal, tradução, traição. No caso em pauta, a tradução seria de um livro.
E alguém, fora da conversa, recordou um episódio: Novelas Nada Exemplares, de Dalton Trevisan. Traduzido para o espanhol, inglês, alemão e holandês. Mas não foi fácil, no último caso. Sobrou para o intermediário holandês. Em um dos contos, Dalton fala do besouro que se debate do lado de fora da janela. Besouro? O tradutor tentou de todas as formas a mais fiel das transposições, mas qual seria o correspondente de besouro para o leitor da Holanda? E patinava, não o besouro, mas o tradutor.
Detalhista, meticuloso ao extremo, a tradução vinha e o contista batia de volta, devolvendo o texto para desespero do editor e, por supuesto, do coitado do tradutor. Tudo culpa do besouro mal traduzido. Lá pelas tantas, o nosso Vampiro de Curitiba não teve dúvida: capturou um besouro, colocou o dito cujo em uma caixa de fósforos (sem dúvida da marca Pinheiro) e o despachou para a Holanda.
Passado um bom tempo, depois de acurado exame do besouro in natura e muitas acrobacias mentais, o tradutor achou um inseto de imagem e trejeitos mais próximos para passar aos (seus) leitores o equivalente, a imagem, do besouro.
Uma pedreira, até porque há 300 mil tipos de besouros, embora todos pertençam à família dos coleópteros.
E Dalton foi sucesso também na Holanda.
ENQUANTO ISSO…
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