Muito já se comentou sobre o uso da crase, o que levou Ferreira Gullar a afirmar que “a crase não foi feita para humilhar ninguém”. Em texto publicado na Ilustrada, Folha de S. Paulo de 31 de julho de 2011 (“Uns craseiam, outros ganham fama”), o poeta confessa que “essa mania de inventar aforismos me veio dos surrealistas, que faziam uso deles com irreverência”.
E que foi em 1955, ao ganhar um exemplar do livro “Tudo sobre a Crase”, que sacou o tal aforismo sobre o uso da crase:
– Tomei o ônibus que me levaria à revista Manchete – então na Rua Frei Caneca -, comecei a ler o livro e, antes de descer, já havia sacado um aforismo: A crase não foi feita para humilhar ninguém. Era de fato uma brincadeira com a preocupação dos gramáticos com o uso da crase. Esse primeiro aforismo desencadeou uma série de outros, que publiquei, meses depois, no suplemento literário do Diário de Notícias.
Uns craseiam, outros…
Sobre os que “craseiam e os outros que ganham fama”, Gullar comprova que o aforismo é de sua autoria. Chegaram a atribuí-lo a Otto Lara Resende, Carlos Drummond de Andrade e outros intelectuais bem humorados.
Lembrando o episódio, professor Afronsius contou que, no Bar VIP da Vila Piroquinha, aquele que Beronha, sem nunca ter ouvido falar em aforismo diz frequentar “eventualmente todos os dias”, percebeu a importância da colocação da vírgula no lugar certo. Mesmo quando não se trata de texto, mas da comunicação oral. Aí, uma breve pausa substitui – e até com maior impacto – a vírgula.
Vírgula? Sim, aquele sinal de pontuação com que se marca a pausa no discurso. Discurso? Outra vez o mestre Aurélio: discurso, peça de oratória proferida em público, exposição metódica sobre certo assunto, arrazoado.
Dois exemplos do emprego da pausa no discurso, no também já citado Bar VIP. Quando um notório e indefectível cliente adentra ao recinto, Rosbife, o feliz proprietário do estabelecimento, não perde a vaza e dispara, numa espécie de saudação:
– Vai um ovo (pausa) cozido?
E, na sequência:
– Quer amendoim (pausa) torrado?
E segue o baile, etílico, ligeiramente ou não.
ENQUANTO ISSO…