A prática não é de agora, muito pelo contrário. Quando a história coincidir com lenda, imprima-se a lenda. Pensando nisso, e não poderia ser diferente, veio à mente do professor Afronsius o clássico de John Ford “O Homem Que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance), de 1962.
Para quem não viu o filme, caso do Beronha, temos o advogado com diploma ainda cheirando a tinta Ransom Stoddard (James Stewart). Segue para a pequena cidade de Shinbone, no Velho Oeste, mas a diligência é assaltada pelo bando de Liberty Valance (Lee Marvin). É roubado e agredido. A vida segue. Stoddard fica amigo de Tom Doniphon (John Wayne), até que um belo dia é forçado a enfrentar Liberty Valance num duelo.
Sabia manusear livros, nunca uma arma. Tom Doniphon, que acompanhava de longe o confronto, socorre o amigo quando este dá um tiro e erra. Quase ao mesmo tempo, Doniphon, do outro lado da rua, dispara e mata o pistoleiro.
O advogado leva a fama de ter matado o facínora.
– E, mais tarde, até vira senador – acrescentou Natureza Morta.
Possíveis variações sobre o mesmo tema
Está lá, no excelente Almanaque Saraiva, coluna Você Sabia?, assinada por Marcelo Duarte, autor do Guia dos Curiosos, Panda Books, a propósito de frases famosas que nunca foram ditas, mas…
– Play it again, Sam!
A frase nunca foi dita no filme Casablanca (1942). Na verdade, Rick, interpretado por Humphrey Bogart, diz “You played it for her, you can play it for me. Play it” (“Se você tocou para ela, pode tocar para mim. Toque!”). Já Ilsa (Ingrid Bergman) diz “Play it, Sam. Play ‘As time Goes by’”. (“Toque, Sam. Toque ‘As Time Goes By’”).
Ainda de Marcelo Duarte:
– Elementar, meu caro Watson!
Acredite se quiser: a famosa frase de Sherlock Holmes nunca apareceu em nenhum de seus livros! O mais próximo a ela registrado na obra de Sir Arthur Conan Doyle foi um diálogo entre Holmes e Watson logo no início de O Corcunda, de 1893. O detetive começa a conversa se referindo ao companheiro como “Meu caro Watson…” Depois da fala de Watson, Sherlock responde: “Elementar”. Quem juntou as expressões foi o ator norte-americano William Gillette, um dos primeiros a adaptar a obra para o teatro.
Depois de Sam, o toque do jazz
Natureza, que também leu a coluna de Marcelo Duarte, aproveitou para transcrever outra frase, agora da matéria Jazz no Brasil, de Sergio Vilas-Boas, agora de autoria de Amilton Godoy, aquele mesmo do Zimbo trio: – No jazz, você não compra a música. Você compra o instrumentista.
ENQUANTO ISSO…