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Mansão da Vila Piroquinha, meio da tarde. Beronha chega e bate à porta – ou melhor, bate na porta com a aldraba de ferro. Natureza Morta olha para o relógio e estranha: ainda é cedo, ele chegou quatro horas antes de o repasto ser levado à mesa.
Como se verá, a visita fora do horário tem seu motivo. É para inverter a maré de azar – “já não é mais nem maré, mas um ensaio de tsunami”, segundo o nosso anti-herói de plantão. O probrema de Beronha: há mais de um mês não acerta no bicho.
– E aí, você não sabe que o jogo é contravenção?
– Não sei se é contra ou invenção, só sei que está contra mim… – lamenta o visitante, passando a explicar que falhou sua última tentativa de “acertar no milhar, seco e molhado”.

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O esquema “genial”

Depois de passar dias observando e anotando placas de carros, ônibus e motos, Beronha fez uma tabela – a palpite triplo – para “balizar” seu jogo.
– No dia par, jogava número ímpar. No dia ímpar, o par – explicou, fazendo cara de Dustin Hoffman no filme Rain Man. Mas não deu nada certo.
– Você certamente não era o Raymond Babbitt – brincou Natureza, referindo-se ao personagem, esse, sim, um gênio em números e cálculos e pé quente.
Em compensação, a pesquisa de campo – ou de rua, como prefere Beronha – rendeu algum conhecimento.
– Descobri que existem lugares chamados Schroeder e Descanso.
– De fato, em Santa Catarina. E são belos municípios.

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O começo, antes das placas

Diante do interesse do nosso anti-herói, Natureza tratou de explicar a origem de tais nomes.
– Descanso, que fica no extremo Oeste, começou a ser colonizado em 1935, com poloneses vindos de Casca, no Rio Grande do Sul. Eram das famílias Graboski, Pitroski, Wronski e Ciechanowski. O lugar foi chamado de Linha Polonesa, por motivos óbvios, mas acabou prevalecendo Descanso, referência à Coluna Prestes, que passou pela região ao iniciar a Grande Marcha – ou “a noite das grandes fogueiras” -, rumo ao Nordeste do país, isso em 1925. A Coluna descansou às margens do Arroio Macaco Branco, nas imediações da localidade. Em 1950, Descanso foi elevada à condição de distrito de Chapecó. A emancipação política veio em 1956.
Schroeder, por sua vez, decorre do casamento de dona Francisca Carolina Joana Carlota Leopoldina Romana Xavier de Paula Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga – sem citar de Bragança e Orleans, para não cansar – e o príncipe François Ferdinand Philippe Louis Marie d´Orléans. Como parte do dote, ele recebeu terras na então província de Santa Catarina. Parte da área foi cedida depois, para colonização, a Christian Mathias Schroeder. Daí o nome do município, criado oficialmente em 1964.

Tristeza também é bom

Beronha bateu em retirada. Antes, anotou as datas de criação dos municípios e outros números.
– Pode ser que agora funcione o palpite triplo, o meu esquema infalível de apostas (sic).
Natureza, por sua vez, deixou-se levar, num doce remanso, para Tristeza. Bairro de Porto Alegre. Apesar do nome, só lhe traz boas recordações. Embora numa espécie de exílio, ficaram lembranças agradáveis. Da subida do Morro do Osso, da Vila Conceição, ao lado, e do pôr do Sol no Guaíba.
A origem? José da Silva Guimarães, um dos primeiros moradores do lugar. Tristeza era seu apelido. O por quê da tristeza de José? Bem, aí as opiniões divergem.
Não há controvérsias, no entanto, quanto à beleza do lugar. Onde, aliás, morou a cidadã Dilma Rousseff, hoje presidente do Brasil.
E a primeira mulher a abrir a Assembleia-Geral da ONU, na distante Nova Iorque.

ENQUANTO ISSO…

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