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De apertos ao terninho azul
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A pesquisa “Retratos da Sociedade Brasileira: Locomoção Urbana”, da CNI, divulgada na semana passada, mostra que o Transporte coletivo é utilizado por 42% dos brasileiros. Rumo ao trabalho ou à escola.
Nesse bate/volta, 43% dos brasileiros gastam meia hora; 27%, mais de meia hora; 24% da população, mais de uma hora por dia. Em cidades com mais de 100 mil habitantes, 32% precisam de mais de uma hora para se deslocar.
O que também chamou a atenção de Natureza Morta foi outro ponto do estudo: quem tem maior renda perde mais tempo no trânsito. Da população com renda familiar entre cinco e dez salários mínimos, 31% gastam mais de uma hora para ir de casa ao trabalho ou à escola. O percentual chega a 37% entre os com renda superior a 10 salários mínimo.
– Viu como há vantagem em ser pobretão? Se tempo é dinheiro, a gente perde menos enquanto fica sacolejando no busão – comentou Beronha.

Na rua, cenário lunar

No livro Todo dia nunca é igual, dos jornalistas José Carlos Fernandes e Marcio Renato dos Santos, lançado no ano passado como parte da programação que focalizou os 90 anos da Gazeta do Povo, temos, como bem eles descrevem, muitos exemplos do drama curitibano quanto ao trânsito. “Viver nessas plagas era um martírio digno dos cristãos das catacumbas”.
Assim, houve um tempo em que um dos passatempos dos curitibanos era falar dos buracos da rua. “Como se vivia o auge da conquista espacial, a comparação mais freqüente era a das falhas do asfalto com as crateras lunares. Para ajudar, a taxa de motorização da cidade, na década de 1960, aumenta nove vezes, sem que o poder público consiga responder – com piche e políticas de trânsito – a essa demanda. Reclamar da pavimentação, logo, vira esporte municipal”.

Entre lambretas, FNMs e Gordinis

Como bem assinala a dupla de jornalistas, “o motorista nunca se via questionado em seus hábitos, nem responsabilizado pelos congestionamentos infernais na Praça Tiradentes. Não lhe diziam respeito as estacionadas em fila dupla ou a confusão envolvendo FNMs, lambretas e Gordinis na velha Marechal Floriano”.
Quem sobrevivesse a todos esses percalços teria ainda pela frente outra provação na Marechal Deodoro: o trilho dos bondes estava sendo retirado, “para tristeza dos saudosistas e desespero dos apressado”.
No final da década de 1950, a capital tinha exatos 1.660 automóveis. Ao final de 1962, esse número tinha dobrado, mexendo com a rotina daqueles que aqui viviam “como se estivessem na Colônia Rebouças”.
Em 1969, depois que o homem já tinha pisado na Lua, a frota de carros chegava a 9,6 mil – ou seja, seis vezes mais. “A bitola das ruas e as usinas de asfalto não davam conta do tal progresso”.
É, como diz o solitário da Vila Piroquinha, era o adeus ao terninho azul da primeira comunhão. A criança tinha crescido e não cabia mais no traje domingueiro.
A barra da calça já tinha sido desdobrada ao máximo e os punhos do paletó, prolongados ao limite.

ENQUANTO ISSO…


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