Tem gente que, comprovadamente, não tem sorte na vida. Caso do nosso anti-herói de plantão. Como diz Natureza Morta, se Beronha tivesse herdado uma fábrica de gravatas, as pessoas passariam a nascer sem pescoço. Ou, então, se fosse uma grande fábrica de vasos sanitários, a turma viria ao mundo totalmente desprovida do aparelho para atender a exigência diária e compulsória de satisfazer as ditas necessidades fisiológicas.
Algo por aí.
É o próprio Hardy, comentou o professor Afronsius, colocando em cena a figura do desenho Lippy & Hardy. Lippy era o leão; Hardy, a hiena. Lippy tinha planos mirabolantes, mas topava com o pessimismo de Hardy, que tornou famoso o bordão “Oh céus, Oh vida, Oh azar”.
Manteiga para baixo
Sobre a teoria do azar, há uma entrevista com o físico inglês Robert Matthews. Foi feita pelo jornalista Thomas Traumann e saiu na (semanal) Veja em junho de 1997, conforme a seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog.
Matthews explica por que a torrada cai sempre com a manteiga para baixo, o clássico exemplo das coisas que sempre dão errado. Segundo ele, que aborda a famosa lei de Murphy (“se algo tem a chance de dar errado vai dar errado mesmo”), quando a torrada escapa pela borda da mesa e vai direto para o chão sem a interferência de nenhuma outra força que não a da gravidade e a da fricção, o lado da manteiga fica embaixo.
“Uma torrada, um livro ou qualquer objeto de formato semelhante têm uma tendência natural de cair de cabeça para baixo porque o torque gravitacional não é suficiente para que eles girem completamente sobre si mesmos antes de chegar ao chão”.
A distância entre a borda da mesa e o solo só permite que ela dê meia-volta. “É pura ciência básica. Se a distância fosse maior, o resultado seria diferente e é provável que o lado da manteiga estaria salvo”. Por que as mesas não têm altura maior? “Porque isso não seria conveniente nem confortável à natureza humana”.
Princípios científicos
Assim, ele conclui que, em geral, os aborrecimentos do dia a dia têm explicações em princípios científicos bem simples. “O problema é que, muitas vezes, os próprios cientistas não enxergam isso e preferem acreditar que esses azares são produto da nossa memória seletiva, que nos faz lembrar mais facilmente dos episódios que dão errado do que dos que dão certo”.
Mas, como rebate Beronha, a vida não é tão simples assim. E não é conduzida por princípios científicos – nem simples nem complicados.
– Além disso, em matéria de princípios eu sou um zero à esquerda.
ENQUANTO ISSO…
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