Coisa de fim de ano. Natureza Morta recebe Beronha na mansão da Vila Piroquinha. Quer saber do Rosbife, um amigo dele, dele Beronha.
– Está muito bem.
– Parou de beber?
– Parou? Está com uma sede maior do que camelo no oitavo dia…
O solitário da Vila Piroquinha decidiu ficar quieto, até porque nunca esqueceu uma frase do ator Humphrey Bogart, aquele mesmo de “Casablanca”:
– Minha diferença com a humanidade é que eu estou sempre duas doses acima.
Não é de hoje
No início do século XVI, segundo apurou a seção Achados&Perdidos, nossos índios, em especial os Tupinambás, já mandavam uma manguaça considerável. O cauim era uma bebidas fermentada à base de mandioca, milho e frutas.
O preparo – as cauinagens – não era muito agradável de ver, pelo menos pelo invasor estrangeiro. Pedaços de mandioca eram fervidos e, bem cozidos, deixados para esfriar. Então, as mulheres, ao redor de uma panela, colocavam uma porção na boca. Mastigavam bem e depositavam a porção, devidamente mesclada à saliva, em um segundo pote. Enzimas convertiam a pasta em açúcares fermentáveis. Aí, a pasta de raiz mastigada voltava ao fogo para ser mexida com uma colher de pau até cozinhar. Ato final, ou quase final, o material seguia para grandes potes de barro, para mais fermentação e posterior consumo.
– Imagine o porrete – atalhou Beronha.
Assim, os Tupinambás partiam para seus festejos, geralmente ligados a vitórias sobre os inimigos “do outro lado da montanha”.
O vinho de Cabral
Vale lembrar também que a esquadra de Cabral ofereceu vinho aos índios. Eles recusaram.
Registrou o escrivão Pero Vaz de Caminha: “Trouxeram-lhes vinho numa taça, mal lhe puseram a boca, não gostaram nada, nem quiseram mais”.
Natureza:
– Se a guerra é ganha pelo estômago, a bebida pode ajudar. Com menor custo.
E não dá para esquecer do que ocorre com elefantes nas savanas do Sul da África. Um deles sacode um pé de marula para derrubar a fruta amarela e pequena. Começa a degustação. Todos são convidados. Elefantes, macacos, girafas. Quem chegar. A marula fermenta no estômago e produz álcool. Fortíssimo.
– Comer a fruta é tomar um sólido pileque – concluiu Natureza, já meio zonzo.
Beronha:
– Hic!
ENQUANTO ISSO…