Debaixo de chuva

– Brutalidade! Cadê os direitos humanos?
Beronha tem reclamado muito nos últimos dias. Culpa da chuva e do frio em Curitiba. E como pular da cama cedo nunca foi seu forte, muito menos no inverno, virou um poço de rebeldia. Basta ver que, para nosso anti-herói de plantão, a natureza teria sido mais correta se o amanhecer fosse ao meio-dia.
– Aí você poderia anunciar, feliz da vida: hoje, madruguei. Acordei às 10.

Efeitos e defeitos

Professor Afronsius e Natureza Morta até que concordaram com Beronha.
– O tempo anda terrível. Varreu das ruas até aqueles vendedores de guarda-chuva que, aos primeiros pingos, brotavam de supetão, eficientíssimos, em pontos estratégicos da cidade. Sobraçando cinco, dez guarda-chuvas, formulavam uma oferta irrecusável aos (ainda) desprevenidos e desinformados quanto ao tempo curitibano.
– É, até está lembrando Macondo, de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.
Beronha:
– Não li, mas já gostei muito… Aliás, o nome correto não é Marimbondo? Em tempo, corrigindo: Marimbondos. Marimbondos de Fuego?
Silêncio geral.

Breves registros

Após uma breve incursão ao mundo exterior, professor Afronsius retornou com algumas anotações (feitas mentalmente) quanto aos efeitos da chuvarada:
– Não é que a Relojoaria Pontual abriu com 2 horas de atraso?
– Isso não é nada. Na mansão da Vila Piroquinha, a diarista só aparece com 2 dias de atraso – emendou Natureza.
Mas ele tem outras queixas, embora conte com um potente fogão a lenha. Ocorre que Pica-Pau, o lenheiro da Vila, não tem aparecido. Alega que a sua carroça é desprovida de toldo. Lenha molhada? É melhor não entregar. Tenho de zelar pela qualidade do meu produto.

Da lenha ao jornal (velho)

Embora sem o velho calorzinho do fogão a lenha, o solitário da Vila Piroquinha ainda saúda o jornal. Continua imbatível quando se trata de uma emergência como forrar o sapato molhado. Não inventaram ainda nada igual.
Mas, para ele, os problemas do aguaceiro já são coisas do passado. E citou a constante filosofada de dona Gertrudes, uma simpática senhora alemã:
– Isso chá ontem chá.

ENQUANTO ISSO…