Está nas páginas e, principalmente, no ar. É a tal descoberta do bóson de Higgs – a chamada partícula de Deus. Mais uma vez, o homem acha que vai saber de onde surgiu o mundo, quem o criou e o que nós viemos fazer por essas bandas. O professor Afronsius, um interessado confesso no assunto, mas, totalmente leigo, abriu o dedo de prosa junto à cerca (viva) da mansão da Vila Piroquinha citando o tal bóson.
– Parece capítulo da novela das 8, a dos velhos tempos. Todo mundo dá palpite, eu acho isso, eu acho aquilo – emendou Natureza Morta.
Já que vale o achismo…
Também um curioso, desde pequeno, quando enfiou o dedo na tomada para saber o que era aquilo e para que servia uma tomada (descobriu que dá choque e que a energia deveria ter utilidade para alguma coisa), Natureza demonstrou que continua disposto a meter o bedelho em busca de respostas.
– Mas com o devido cuidado, respeito e prudência.
Vai daí, disse ao professor Afronsius que, a propósito do bóson, o mais recomendável seria ler “A Criação Im/Perfeita – Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza”, do físico Marcelo Gleiser, editora Record, 2010.
– É cheio de ensinamentos, sabedoria e de fácil entendimento. Coisa de gênio.
Não resistiu e apontou alguns trechos, começando pelo conselho: “É hora de olhar para o mundo com novos olhos, sem séculos de bagagem monoteísta”.
Sobre as diversas “representações divinas” da Unidade que conectaria a nossa existência ao resto do universo, Gleiser defende um novo humanocentrismo.
Pés no chão
Afinal, “todo tipo de vida, em particular a inteligente, é um acidente raro e preciso”.
Alerta ainda que, “com o nosso frenesi destrutivo, esquecemos que a Terra é um sistema limitado e que não pode sobreviver a um abuso contínuo”.
Assim, “não temos o direito de arruinar o futuro de nossas crianças”, que, no “jardim das maravilhas”, celebram “a mágica da vida e a beleza do mundo natural”.
Para ele, “o aspecto mais maravilhoso da nossa existência é que temos consciência dela”. E, como nossos ancestrais, “permanecemos sós a contemplar o mistério da Criação”.
Ainda de Gleiser, agora em artigo publicado em 2005, com o título “O Deus de Einstein”: para o homem da relatividade, “a ciência é essencialmente uma atividade religiosa”, enquanto para Espinosa, filósofo do século 17, Deus e o mundo eram indistinguíves. Ou seja, “quanto melhor compreendemos o funcionamento do universo, mais nos aproximamos de Deus”.
O professor Afronsius concordou, é claro. Beronha, nosso anti-herói de plantão, em termos:
– Não entendi lhufas, mas acho que vai dar samba-enredo bacana para o próximo carnaval…
ENQUANTO ISSO…