Já que, conforme Ferreira Gullar, “a crase não foi feita para humilhar ninguém”, embora provenha do grego krâsis e signifique mistura, há quem vá um pouco além: nem a crase nem muitas outras palavras foram feitas para humilhar quem quer que seja. Precavido, vai daí que o professor Afronsius tem sempre ao alcance da mão o Dicionário do Aurélio. Aliás, recentemente, lendo um artigo sobre paleografia, foi interrompido abruptamente…
– Pa, pa pale… – interveio Beronha, nosso aflito anti-herói de plantão…
– A paleografia. O estudo das escritas antigas. Deriva do grego palaio que significa antigo e graphia que significa escritura.
– Ah, entendi, mas continuo boiando…
Do pergaminho aos livros
Ainda sobre paleografia, agora foi o professor Afronsius que ficou sabendo: códice (substantivo masculino) é a forma característica do manuscrito em pergaminho, semelhante à do livro moderno. E que a tinta ferrogálica era composta de sulfato de ferro, ácido galotânico e um aglutinante, em geral a goma arábica dissolvida em água.
Quanto à letra cursiva, tirou de letra, sem trocadilho, dispensando a muleta do dicionário: letra manuscrita, geralmente pequena, traçada de maneira rápida e corrente.
Dextrogiro? O que vira para a direita. No caso, o ângulo da letra. O antônimo vem a ser levogiro.
– Antônimo? Você quis dizer antonômio… – Beronha, sempre alerta, de plantão.
– Antônimo. Palavra com significado oposto ao de outra.
Para encerrar o papo, professor Afronsius decidiu jogar pesado, invocando o deveras desconcertante substantivo feminino apócope. Diante do silêncio, arrematou:
– Apócope, ensinam os filólogos, vem a ser a supressão de fonema ou de sílaba no fim de uma palavra. Exemplo: bel por belo. Daí, quem sabe, nós chegamos ao maçante porque recorrente tudo belê? Que vem – ou vinha a ser – tudo beleza na forma interrogativa.
ENQUANTO ISSO…