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Ficar mais velho tem o lado bom. E gratuito. “Você ganha livros de presente”. Foi assim, contente da vida, que o professor Afronsius deu a entender que estava de aniversário. Idade?
– Bem adiantada, mas ainda não recebi as coordenadas para poder dobrar do Cabo da Boa Esperança.
E informou que, entre os presentes, ou seja, livros, “livros à mão cheia”, está “Iconografia do Cangaço”, de Ricardo Albuquerque (org.), Editora Terceiro Nome, São Paulo, 2012.
O livro – um livraço – inclui filme com cenas inéditas de Lampião e seu bando. Traz ainda textos assinados por Moacir Assunção (“Lampião: retrato de luz e sombra” e “Na boca do fuzil”), Ângelo Osmiro Barreto (“Benjamin Abrahão: a mais importante reportagem fotográfica de todos os tempos”) e Rubens Fernandes Júnior (“A clandestinidade exibida”).

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Fotografia como arma

Como contam os editores, “a história do cangaço ganhou o imaginário popular como poucos outros casos de revoltas populares na História do Brasil. Lampião, o grande responsável por tirar o movimento do sertão profundo e levá-lo para os jornais das grandes cidades, soube valer-se dessa grande invenção que se popularizou no início do século XX: a fotografia”.
Mais: graças aos registros fotográficos, num primeiro momento feitos por fotógrafos ocasionais espalhados pelo sertão e, depois, pelo libanês Benjamin Abrahão – autor da série mais significativa dessas imagens –, “o cangaço ganhou as páginas dos jornais e a imaginação popular. Com as notícias, que se produziam ora enaltecendo os feitos de bravura, ora narrando enfaticamente a crueldade dos cangaceiros, as personagens dessa história foram se encorpando no imaginário do povo. Daí para as canções populares, os cordéis e as lendas sertanejas foi um pulo”.

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Cotidiano, hábito e costumes

Em março de 1926, quando deu uma “entrevista”, o pernambucano Virgulino Ferreira da Silva tinha 27 anos. Contou que estava na luta desde 1917. Morreria aos 40 anos, em emboscada, no Angico (Sergipe).
Como era destro, aprendeu a atirar com a mão esquerda ao ficar cego da vista direita. Por que Lampião? O apelido, dizem, surgiu ao “iluminar” o chão da caatinga para que um companheiro pudesse encontrar o cigarro que havia caído. Atirava tão rápido que “iluminou a noite”.
Sua fama pelas andanças pelo sertão rendeu até matéria no New York Times.
O livro da Terceiro Nome reúne mais de 150 fotografias, “revelando detalhes das vestimentas, do cotidiano, dos costumes e hábitos disso que se convencionou chamar de estética do cangaço. Além disso, traz um brinde ao leitor: o DVD “Lampião, o rei do cangaço”, com as únicas imagens em movimento dos cangaceiros, produzidas por Benjamin Abrahão e agora numa nova montagem feita por Ricardo Albuquerque, que inclui 4 minutos inéditos, recuperados, em 2002, pela Cinemateca Brasileira”.
Natureza Morta não se conteve:
– Palmas para a Cinemateca Brasileira!
O livro contém ainda telegramas inéditos do ataque a Mossoró, cedidos pelo livreiro Maurício, do Sebo Baratos da Ribeira. O projeto gráfico é do premiado Delfin/Studio DelRey.

Cangaceiros e fanáticos

Aproveitando a bala na agulha, o solitário da Vila Piroquinha deu um pulo até o anexo 2 da sua biblioteca e voltou com a primeira edição de “Cangaceiros e Fanáticos”, de Rui Facó, Civilização Brasileira, 1963. E foi avisando:
– Não é presente. Só empréstimo. Mediante solene e sagrada promessa de devolução.
Facó alerta que fanatismo e banditismo – termos utilizados na época para classificar os movimentos de Canudos, Contestado e Juazeiro, principalmente – “possuíam um teor pejorativo que retirava o conteúdo progressista e revolucionário dessas rebeliões”. Marxista, considera que tais explosões foram “verdadeiras tomadas de consciência das populações pobres rurais e que o misticismo religioso expressava a rebeldia, a capacidade de organização e a insubmissão das populações sertanejas”. Facó também coloca o cangaço como “movimento contestador da ordem social”.

Fundo “perfeitamente material”

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“O fenômeno de misticismo/messianismo, que se convencionou chamar de fanatismo, continua Facó, têm um fundo perfeitamente material e serve apenas de cobertura a esse fundo. É a sua exteriorização. Em populações submetidas a mais ignominiosa exploração e mergulhadas no mais completo atraso, sob todos os aspectos, a razão estava obscurecida e transbordavam os sentimentos em estado de superexcitação”.
Beronha, que a tudo ouviu, ajustou a alpercata e saiu de fininho, feito um coiteiro.
– O sertão vai virar mar/o mar virar sertão…

ENQUANTO ISSO…