No mergulho quase sempre diário em seus alfarrábios, professor Afronsius acidentalmente encontrou vários registros de um filme: O Caso dos Irmãos Naves. Para quem não viu ou nada leu a respeito, trata-se da reconstituição de um episódio real, ocorrido durante o Estado Novo (1937), na cidade mineira de Araguari. Conta, ou reconta com imagens, o drama provocado por um sujeito que foge, levando a grana de uma safra de arroz.
Os irmãos Joaquim (interpretado por Raul Cortez) e Sebastião Naves (Juca de Oliveira), que eram sócios do fugitivo, denunciam o caso à polícia. Mas, para variar, de reclamantes passam a réus. Por obra e graça da investigação de um tenente da polícia (Anselmo Duarte, ele mesmo, o nosso galã), que conduz e monta o inquérito. Mediante sessões de tortura, os irmãos acabam confessando o crime.
Um filme de 1967, dirigido por Luís Sérgio Person, que, em 1965, fizera o também mais do que excelente São Paulo S/A. Além de Carlos (Walmor Chagas), como esquecer Otelo Zeloni no papel de Arturo, o picareta alegre, fanfarrão e corrupto que sobe na vida por conta de subornos e muito lobby? Em determinada passagem, regressando a praia com a família, canta alegremente canções italianas e (ato falho?) deixa escapar uma de sua juventude, notoriamente fascista. A música e a sua formação.
Como apontou um crítico, o filme é “um contundente retrato da alienação e do desespero do cidadão médio perante a emergente e aguda industrialização iniciada no final dos anos 50”.
Naves, J’Accuse, etc e tal
Voltando aos Naves: o roteiro foi adaptado do romance de João Alamy Filho, que, aliás, atuou como advogado dos irmãos.
E não é que, ontem, lendo a coluna do jurista e professor Walter Maierovitch, na revista Carta Capital, sob o título O rodízio no STF, professor Afronsius topou com este e outros erros judiciários?
– No Brasil, escreve Maierovitch, tivemos o caso, levado ao cinema, dos irmãos Naves. Eles foram condenados por homicídio e a vítima, posteriormente, apareceu viva. Na França, ocorreu a perseguição ao capitão Dreyfus, que, fora dos autos, gerou o célebre J’Accuse, do escritor Émile Zola.
E por aí fomos. Ou continuamos indo.
ENQUANTO ISSO…