Semana passada, quarta-feira, dia 19. Muito mais: Dia do Índio. A data comemorativa foi criada em 1943, pelo presidente Getúlio Vargas, conforme o decreto-lei número 5.540. Por que 19 de abril? Em 1940, no México, foi realizado o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Temerosos, representantes indígenas não aceitaram o convite, mas, após reuniões e muito diálogo sincero e honesto, decidiram apoiar o Congresso Indigenista. Isso ocorreu no dia 19 de abril – daí a escolha da data comemorativa.
E, a propósito de nossos irmãos índios, tivemos um evento: Tocadores – Encontro de Tradições, em Antonina, com índios Fulni-ô, que fazem parte de uma tribo de Pernambuco. Durante três meses do ano, isso mesmo, eles cessam todas suas atividades para rezar. Por conta desses 90 dias, dividem-se em grupos pelo Brasil afora, vendendo artesanato e realizando apresentações para arrecadar recursos e manter viva a sua cultura.
Depois, em Curitiba, o grupo esteve no Museu Paranaense na terça-feira. Constava do programa apresentação, ontem, no Museu de Arte Indígena, e, hoje, no Museu Paranaense, pela manhã e à tarde. Quem compartilha de um desses encontros fica entusiasmado:
– Eles têm uma cultura incrível. E, inclusive, estão vendendo um CD maravilhoso com os cantos sagrados da tribo. Para contato, os interessados podem ligar para 99519-8845.
A propósito dos índios Fulni-ô: há um link sobre a participação de alguns deles numa das últimas novelas da Globo: https://youtu.be/s752oNI9mJE
Breve histórico
Texto de Lúcia Gaspar, da Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco, revela mais sobre a tribo:
– Os índios da tribo Fulni-ô vivem no município de Águas Belas, em Pernambuco numa aldeia de 11.500 hectares, localizada a 500 metros da sede da cidade. Sua população é de aproximadamente 3.600 índios.
Eram conhecidos, antigamente, como Carijó ou Carnijó e não se conhece o tempo da sua existência. A origem do nome Fulni-ô é muito antiga. Significa “povo da beira do rio” e está relacionada com o rio Fulni-ô que corre ao longo da aldeia de Águas Belas. São os únicos indígenas do Nordeste brasileiro que mantêm viva a sua língua nativa – a Yaathe (ou Yathê).
A língua Yaathe, que significa “nossa boca, nossa fala, nossa língua”, é oral, não possui cartilha. É aprendida pelos índios em casa com os familiares, no convívio doméstico e, segundo a professora Alieta Rosa, por intermédio de uma escola bilíngue que a aldeia possui. Inclusive, já existe um livro com o registro gramatical da língua.
Além da aldeia a comunidade possui na reserva outro local de moradia, onde habitam durante três meses por ano por ocasião dos rituais do Ouricuri. O Ouricuri é um retiro religioso secreto, realizado anualmente nos meses de setembro, outubro e novembro, onde não é permitida a entrada de não índios (mesmos os que têm qualquer tipo de parentesco com os Fulni-ô), pois é um espaço sagrado para eles. Durante esse período, os indígenas se mudam para a outra aldeia, também chamada Ouricuri, distante cerca de cinco quilômetros do local onde habitam, levando quase tudo que têm, até os bichos de criação.
O que ocorre no Ouricuri é um mistério. Nem mesmo as crianças revelam o que se passa no evento. Sabe-se que durante esse período os homens dormem em local reservado, o Juazeiro Sagrado, ao qual as mulheres não podem ter acesso. As rivalidades são esquecidas.
Até os anos 30, as casas dos Fulni-ô eram construídas, exclusivamente, com a palha do ouricuri (planta da família das palmeiras). Hoje, a aldeia é composta por habitações individuais de taipa ou alvenaria, semelhantes às das populações pobres do Nordeste brasileiro.
Uma ameaça cada vez maior
Os índios vivem do artesanato da palha do ouricuri, comercializado nas feiras livres da região, da agricultura de subsistência e de alguma criação de bovinos e suínos. Ainda praticam a caça e a pesca, mas essas atividades estão quase em extinção, devido aos desmatamentos e à poluição dos rios da região.
Suas manifestações culturais incluem a dança e a música. As danças dos Fulni-ô são inspiradas em vários animais e aves, sendo o toré a mais tradicional. Existe também a cafurna, uma dança cultural resultante da influência de outros grupos e uma outra conhecida como coco de roda, dançada com estilo próprio e que tem origem na cultura dos negros. As músicas das danças são cantadas em português e yaathe.
Usam como instrumentos musicais o maracá, o toré e a flauta. Tocam também instrumentos dos brancos como clarinete, pistão, trombone, violão, guitarra. Possuem até conjuntos e bandas formadas.
Boa sorte, tudo de bom aos nossos irmãos Fulni-ô. E, por extensão, aos demais, de todas as tribos.
ENQUANTO ISSO…