Diante de tanta intolerância no mundo (e haja mundo para isso), para quem já esqueceu, ou não leu, está no livro Febeapá: Festival de Besteira que Assola o País, de Stanislaw Ponte Preta, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1966:
– Na estreia de Electra, em 1965, no Teatro Municipal de São Paulo, agentes do (mais que poderoso) Dops compareceram ao local com “uma dura missão”: prender o autor da peça. Um sujeito altamente subversivo.
– O problema era que o procurado, um certo grego Sófocles, morrera em 406 a.C. Um vexame. Mas isso não impediu que, algum tempo depois, a Secretaria de Segurança Pública do Rio proibisse em Niterói a encenação de Édipo Rei, outro texto do indigitado cidadão. Alegou-se o mesmo de antes: a obra era “subversiva”.
Nem o Arnesto escapou
Já no fascículo 6 da coleção A Ditadura Militar no Brasil, da revista Caros Amigos, temos o caso envolvendo o compositor e cantor Adoniran Barbosa, autor de Trem das Onze, Saudosa Maloca e “outras preciosidades”.
– Ao preparar um disco com sambas que já tinham sido gravados, levou chumbo por causa de um trecho de Samba do Arnesto. Adoniran, famoso por reproduzir o “falar típico dos paulistanos de bairros como Brás, Bexiga e Barra Funda”, diz num trecho:
– O Arnesto nos convidou prum samba/ Ele mora no Brás/ Nóis fumo/ Num encontremo ninguém/ Fiquemo Cuma baita duma réiva/ Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu).
O censor queria que ele regravasse, cantando assim: Ficamos com uma baita de uma raiva/ Em outra vez nós não vamos mais. (Nós não somos tatus).
Mais: exigia que Arnesto virasse Ernesto e Tiro ao Arvo, Tiro ao Alvo.
Adoniran “achou melhor esperar a burrice passar para voltar a gravar”.
ENQUANTO ISSO…