Jornalismo robotizado. Isso mesmo, sem interrogação. Saiu na Carta Capital, na coluna Tecnologia, texto de Felipe Marra Mendonça: “Computadores treinados escrevem sobre jogos, terremotos e crimes”.
“A companhia americana Narrative Science treina computadores para que escrevam sumários de jogos de diferentes modalidades desde 2012 com grande sucesso. Os resumos são publicados online nos jornais logo depois do fim do jogo, com uma velocidade impossível para um redator humano”.
Professor Afronsius achou ótimo, mas deseja e espera mais: um jornalismo robotizado que, além da rapidez, garanta um ferrolho contra as seguidas injustiças. Citou o caso de uma matéria publicada quarta-feira por um jornal esportivo de circulação nacional, formato berliner, ou seja, algo entre o broadsheete e o tabloide. O (pobre) do leitor fica estarrecido, quase que perplexo, depois de ler o texto, na íntegra, e conclui que houve um certo exagero na interpretação das declarações de Johan Cruyff. Ou um filtro. Um tanto maldoso.
O título, por exemplo, garante/afirma, categoricamente: “O problema é Neymar”. Na legenda da foto, imagem do jogador lamentando um lance perdido qualquer, temos: “Alvo. Craque brasileiro sofre duras críticas de um grande ídolo do Barcelona”.
Na gravata da matéria, “críticas/ Johan Cruyff diz que brasileiro não pode brilhar tanto quanto Messi”.
O presidente de honra do clube catalão, segundo o texto do jornal em formato berliner, aponta Neymar como “o” problema do Barcelona.
– Não seria o caso de um bom problema? – intervém Natureza Morta.
Fica-se sabendo,na sequência, que a origem da matéria é uma entrevista concedida ao diário El Mundo Deportivo.
Problema da diretoria
Depois de fustigar Neymar no título, na gravata, na legenda e no corpo da matéria, o jornal brasileiro deixa escapar, para o leitor mais atento, que não se trata de um ataque cerrado do holandês. Pelo contrário. Exemplo: ele diz, ou teria dito, que “ninguém com 21 anos é Deus”, e que Neymar “é um grande jogador, isso é indiscutível, mas não se pode contratar um jogador de 21 anos que receba mais do que outros jogadores que ganham tudo”.
Problema da diretora – ou não?
Resumindo o resumo da ópera. Segundo Cruyff, que jogou e foi treinador do Barça, “é impossível que Neymar seja a grande figura da equipe enquanto Messi estiver lá”. Matou a charada.
Por supuesto, Messi, para não dizer que é o gênio, cérebro do time, pode ser, mal comparando, uma escada, a escada do sucesso do Barcelona atual, o do momento. Todos os companheiros utilizam os degraus dessa escada, subindo ou descendo – no caso presente, subindo.
Um outro jogador, Neymar ou o prezado Zé Bedeu, só poderá substituir Messi no sentido de ocupar o seu lugar como referência maior em campo, começando pela fidalguia e liderança, quando o craque parar de jogar. Ou mudar de time.
Daí o sonho do professor Afronsius, de contarmos em breve com um jornalismo totalmente robotizado. Ou seja, frio, sem ser afetado por clubismos, sentimentos ou interesses humanos. No mais, viva o Barça. De Messi e mais 10 ou de 10 mais o Messi.
A não ser que a grande alquimia do futebol tenha deixado de ser o conjunto, atuar em conjunto.
ENQUANTO ISSO…
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