Excelente, tão bom quanto o livro, já que a maioria das adaptações para o cinema deixa a desejar. No caso 100%, Vidas Secas, quarto romance de Graciliano Ramos, publicado originalmente em 1938, pela José Olympio Editora.
Em 1963, levado à tela pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, contou com um elenco igualmente de primeira: Átila Iório, no papel do caboclo Fabiano, Genivaldo Lima, Gilvan Lima, Orlando Macedo (o indigitado “soldado amarelo”, mas, no fim, “governo é governo”…), Maria Ribeiro, como Sinhá Vitória, Jofre Soares, o fazendeiro dono do pedaço, Pedro Santos, Maria Rosa, José Leite e Antônio Soares.
E, sem pretensão de trocadilho, choveram prêmios: indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1964, Vidas Secas recebeu o Prêmio OCIC (Organização Católica Internacional de Cinema) e o Prêmio dos Cinemas de Arte. Na Resenha de Cinema de Gênova, no ano seguinte, foi apontado como o melhor filme do ano.
Uma cena de arrepiar
O que também marcou o filme de Nelson Pereira dos Santos foi um episódio paralelo: a sequência em que a cadela Baleia é sacrificada provocou um choque na plateia, e houve protestos. Era tal o realismo que o animal só poderia ter sido executado de fato, com um tiro.
De nada adiantou a explicação do cineasta e atores. Foi, literalmente, uma ” morte de cinema”. Baleia estava vivinha da silva, firme e forte. Os protestos continuaram. Só restou uma saída: levar Baleia do Brasil para Cannes. Ao vivo e a cores.
Não sem dificuldades (grana, burocracia, voo internacional), Baleia foi despachada. Nessas alturas, a imprensa francesa era só expectativa. Porretes nas mãos. E foi ao delírio quando o animal chegou. Consta, inclusive, que, já acostumada com a mise-en-scène do cinema, não se assustou com o sempre amável cerco de repórteres e fotógrafos.
– Imagine hoje, com o mundo pet dominando a cena, Nelson Pereira dos Santos e sua equipe seriam imediatamente linchados antes de terminar a projeção do filme – sentenciou professor Afronsius.
De fato.
ENQUANTO ISSO…
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