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Lançado recentemente, o site www.jbmemoria.com.br ganha corpo. Além de resgatar edições do Jornal do Brasil, coleta depoimentos de profissionais que marcaram sua passagem pelo JB. Belisa Ribeiro, autora do projeto, conta, por exemplo, como a descoberta de um sineiro, por uma estagiária de 21 anos, ela, no caso, deu primeira página. Não estava na pauta. Questão de faro jornalístico.

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– Quando o goleiro vai na bola, agarra e impede o pênalti, não é sorte. É o reflexo, dom e treino. E é isso que nós, repórteres, temos que ter –  tinha ensinado a ela o colega Tarcísio Baltar.

Meu faro achou o sineiro

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Prossegue Belisa, sobre a matéria publicada no dia 23 de julho de 1975:

– Mas de nada adiantaria minha ousadia de mandar a pauta para o espaço e decidir colocar no lide um personagem anônimo e ímpar se o JB não tivesse no comando um chefe como o Gaspari (Elio), com a coragem de estampar na primeirona a foto do seu Domício abraçado às cordas do sistema “aranha” que comandava seus sinos enormes.

A pauta: cobrir um evento paralelo à agenda oficial de um ministro em dia “mais do que importante, importantíssimo, histórico”. Ou seja, uma missa.

– Véspera da promulgação da nova Constituição do Estado do Rio de Janeiro e o Ministro Armando Falcão, aquele que nunca tinha nada a declarar, ia vir à Cidade Maravilhosa para falar, ou melhor, ler uma mensagem do Presidente Ernesto Geisel durante a cerimônia de promulgação que ia até ser transmitida por rádio e televisão. E qual a pauta que sobra para a estagiária, hein? Apurar como ia ser a missa na igreja ao lado do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa, onde de fato tudo ia acontecer. Ao lado, de lado, fora, de fora do centro dos acontecimentos. Es-ta-gi-á-ri-a.

Ainda o depoimento de Belisa:

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– Apenas um faxineiro mal humorado, que não sabia nada da história, nada, mas me deixou andar por todo lado, entrar na sacristia e até passar por trás do altar. Foi quando ouvi os sinos. E perguntei para ele como eu podia chegar até os sinos. Ele fez uma cara horrível, mas eu insisti tanto e disse que era do Jornal do Brasil umas dez mil vezes até que, acho que para se livrar de mim, ele me levou escadaria acima.

A cena era bem inusitada. Um senhor de óculos e de gravata puxando um monte de cordas, na verdade fazendo bastante força, para tocar sinos enormes. Eu nunca tinha visto um sineiro antes, mas pensei que ele não tinha a menor cara de sineiro. Esperei terminar a função e começamos a conversar. Não muito, por que eu estava com medo de perder a última Kombi para voltar para a Av. Brasil.

Laudas (com carbono) na máquina

– Quando coloquei aquele calhamaço de laudas com carbono na máquina, decidi começar pelo sineiro e não pela descrição da igreja, como mandava minha pauta. Nisso chega do meu lado ninguém menos que o Elio Gaspari. Frio na barriga, coração disparado enquanto ele lia meu lide parado atrás das minhas costas. Eu nunca tinha falado com ele. Ou melhor, ele nunca tinha falado comigo. Foi simpático e me perguntou tudo sobre o sineiro. E mais não disse. No dia seguinte quase enfartei. O sineiro estava na primeira página!

Comentário do professor Afronsius:

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– De fato, chutar o balde de nada adiantaria se não houvesse na chefia gente do calibre de um Gaspari.

ENQUANTO ISSO…