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Não chega aos pés – ou rodas – de Taxi Driver, de Scorsese, mas tem um recheio de imprevistos, sustos, perigo e algum humor. No caso, é a vida profissional de um calejado profissional, o seu Naldinho. Começou no tempo em que, de fato, quem dormia no ponto era motorista de táxi. A cidade permitia. E ponto de táxi, aliás, era referência e um porto seguro para o cidadão, nas mais variadas circunstâncias.

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Da ficção à vida real

Já que citou Taxi Driver, 1976, de Martin Scorsese, com Robert De Niro, Jodie Foster e Harvey Keitel, professor Afronsius abriu o leque: é a história de um veterano da guerra do Vietnã que vira taxista em Nova Iorque, turno da noite, e não consegue conter o crescente sentimento de revolta diante da podridão humana. E o bode é inevitável.

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Quanto ao nosso pacífico e cordial seu Naldinho, também teve seus momentos de ira: certa feita, à noite, transportou um cabôco até um bairro muito distante, muito, muito além da Vila Piroquinha.

Na hora de receber pela corrida, ouviu do passageiro:

– Não tenho dinheiro.

– É? Não tem? Vamos então fazer um escambo

Voltou para o centro de Curitiba com a reluzente japona do caloteiro.

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A pergunta recorrente

Conta ainda nosso herói que a pergunta de quem chegava era sempre a mesma:

– Está livre?

– Desde 13 de maio de 1888. Graças a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, que decretou a abolição da escravatura. Mas a libertação ainda não veio. Estou esperando. Tanto que aqui estou ainda em regime de trabalho escravo…

Essa era uma das respostas. A outra:

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– Tá livre?

– Não. Estou transportando dois ETs invisíveis aí atrás…

E outra:

– Está livre, meu senhor?

– Não. Sou casado. E em regime de comunhão de bens…

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Onde ou para onde?

Ainda do seu Naldinho, diante de passageiros indecisos ou ligeiramente mamados.

– Para onde?

– Sabe que não sei… Esqueci o nome da rua, o número e o nome do hotel.

Ou, então:

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– Para onde?

– Não sei. Tô sem GPS…

Acontecia de tudo. Na Rodoferroviária de Curitiba, seu Naldinho recolhe um cliente:

– Toco para onde?

– Céu Azul.

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– O senhor quis dizer Barão do Serro Azul.

– Não. Céu Azul, próspero município do Oeste.

Com o surgimento do taxímetro, mais imprevistos. Como o aparelho fazia um tic tac constante, não poucas pessoas pediam para brecar o carro e desciam no meio do caminho. A bandeira 2, no entanto, bateu recordes de problemas quando foi adotada.

– Bandeira 2?

– 2.ª é segunda classe. Só vou de 1.ª… Sou da Casa Grande.

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20 anos atrasado

Início de madrugada, 2 anos atrás, aparece um (candidato) a passageiro.

– Toca pra Boate Marrocos.

– Está fechada.

– Já, tão cedo?

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– Está fechada há pelo menos 20 anos, meu senhor…

Pela manhã, outro cabôco aparece:

– Corre para o aeroporto de Viracopos.

– Fica em São Paulo…

– Pois é, acontece que eu perdi o embarque no Afonso Pena…

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E teve outro que embarcou com um acompanhante, que, apoiado, cambaleava.

– Pronto Socorro Municipal. Mas bem devagarinho… Marcha lenta.

– Marcha lenta?

– É, o ferido aqui ao lado era o meu agiota…

Última corrida, fim de turno

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Mas ficamos por aqui. Fim da(s) corrida(s). Sem esquecer, no entanto, que, bela noite, seu Naldinho literalmente dormiu no ponto. Praça Tiradentes. Rompe o dia, dobram os sinos da catedral. Ele desperta e percebe, pelo retrovisor, que há um passageiro no banco traseiro. Dormindo a sono solto, ele igualmente tinha acordado, ainda não refeito do susto causado pelo badalar dos sinos.

– E o senhor, que faz aí?

– Cheguei à noite, você dormia.

– Por que o senhor não me acordou?

– Não, não, você dormia tão tranquilamente que não quis acordá-lo. Dormi também.

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 ENQUANTO ISSO…