Ele é de poucas palavras. Não por falta de repertório, mas porque, como faz questão de explicar, evita encher a paciência dos outros. Assim, nem sempre rola uma conversa, por mais breve que venha a ser, junto à cerca viva que separa a sua casa da mansão de Vila Piroquinha.
Também com fama de ranzinza e rabugento, Natureza Morta acabou virando um dos raros interlocutores de Afronsius, o professor Afronsius.
Taxidermista (aposentado), ele explicou um dia o motivo para a escolha da profissão:
– Tentativa de perpetuar uma espécie. Raríssima. A do ser humano 100%, nem chato muito menos corrupto. Não foi possível. Faltou matéria prima, ainda muito escassa, aliás.
Um viciado fiel
Na semana passada, num dos raros encontros com o professor Afronsius, Natureza e Beronha colheram mais informações sobre a vida particular da soturna figura.
Logo de cara, para espanto geral, confessou que não conseguia largar a droga.
– Da pesada? – quis saber nosso anti-herói de plantão.
– Pesadíssima.
E explicou:
– Sou casado e há 40 anos não consigo deixar a droga… Só posso ser viciado na patroa. Dependência total e irrestrita.
Dona Orlanda, a mulher de Afronsius, não deixa barato (barato sem segundas intenções):
– Desde que casei com este traste aí nunca tive gripe ou resfriado, mesmo no verão de Curitiba.
– Nunca?
– Nunca. É que eu vivo com o xarope sempre ao meu lado… – e abriu um rápido sorriso.
Depois, a dupla – dupla? Afronsius prefere dizer que não se trata de uma dupla, mas de uma parelha – voltou à jardinagem.
Ela, dedicada às orquídeas.
Ele, aos cactos do deserto mexicano.
ENQUANTO ISSO…
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