A leitura na sala de espera de consultório médico quase sempre se resumiu a revistas, geralmente velhas e em frangalhos pelo manuseio. Mas há surpresa: caso de BioNotas, um informativo bimestral do Biocentro, de Curitiba, com a colaboração de profissionais das mais variadas áreas médicas.
Da edição de outubro, professor Afronsius destacou um artigo (assinado pelo psicanalista Célio Pinheiro) que faz um raio-X do “sujeito contemporâneo”, que, engolido pelo consumismo, “não sabe o quer e também não sabe o que sente”.
E, sobre consumismo, acrescentou professor Afronsius que, suprema glória, já anunciaram o passaporte para cachorro.
A fala e a escuta
Confesso ex-leitor assíduo de bula de remédios, professor Afronsius gostou das colocações feitas pelo doutor Célio no texto “O sujeito contemporâneo e a escuta psicanalítica”. Tanto que sublinhou passagens.
– O Sujeito contemporâneo é fugidio, efêmero, passante, rápido, eufórico, melancólico, por vezes depressivo, consumista, muito são excluídos, outros tantos entediados com a inclusão. Quer ser feliz, mas tem ideias confusas sobre isso. É constituído pelas relações interpessoais e pelas formas atuais da Cultura. O que pensa em sua solidão? O que é a Cultura em que o sujeito contemporâneo está inserido?
– As fórmulas milagrosas são armadilhas perigosas! Elas prometem curar o Sujeito daquilo que é incurável: a subjetividade, o pensamento, as palavras, os afetos, o fato de que a vida não é tão ordenada, de que a morte existe mesmo e precisamos do recolhimento do luto para o psiquismo se reorganizar. Querem roubar de nós o direito à tristeza! A beleza da vida não se encontra no marasmo, ela não é uma linha reta sem desafios, sem perdas…
– Na Clínica, escuto sujeitos derrotados por não conseguir entender estas questões por estarem distantes do ideal de felicidade que lhes é exigido. Sujeitos que sofrem o drama de não conseguir ter um psiquismo sustentado por pilares firmes, sujeitos cuja identidade vacila a cada curva da vida.
– Estamos perdendo a dimensão de que o humano é um ser histórico e que essa dimensão é fundamental para que o psiquismo se referencie.
– Diante da falta de sentido da vida, tão presente nos discursos da clínica contemporânea, a Psicanálise mostra que o processo da fala e da escuta se oferece como possibilidade de produzir uma compreensão de si. A partir daí poderá surgir a coragem tão necessária à vida, a coragem (e a satisfação) de desejar, realizar, agir – arremata o psicanalista Célio Pinheiro.
Com a devida vênia.
ENQUANTO ISSO…
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