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Muito trabalho, poucos direitos

Ainda abalado com a notícia – ou fofoca, como prefere classificar – de que virou funcionário fantasma da OIT – Organização Internacional do Trabalho -, Beronha procurou “apoio moral” junto a Natureza Morta. Nosso anti-herói de plantão garante que não é dado ao trabalho por uma questão muito simples e comum no futebol:
– Insuficiência técnica. E tenho atestado liberatório.
O solitário da Vila Piroquinha fez ver ao amigo que trabalhar não é propriamente um castigo. É bom e faz bem.
– O cabôco que inventou isso certamente não tinha o que fazer. Meu ofício é puramente intelectual, daí não ser visível – devolveu Beronha.

Carga pesada

Na tentativa de “dobrar” o amigo, Natureza procurou mostrar que trabalhar já foi uma coisa terrível. Convocou, então, a seção Achados&Perdidos, para um breve retrato da dramática situação brasileira no início do século XX. Não era nada fácil: 14 horas de trabalho por dia, embora em muitos casos a labuta ocupasse 17 horas do dia. Meia hora de intervalo para almoço.
O comércio fechava entre 9 e 10 da noite. E havia até castigos físicos para os mais jovens, quando cometiam erros. A semana tinha seis dias de trabalho e o domingo para descanso. Não remunerado, é claro. Havia no Brasil 150 mil operários dando duro, literalmente. Começaram, então, a pipocar greves. Passo seguinte, a formação de sindicatos. O rastilho estava aceso.

Greve e sindicatos

Nos primeiros anos do século foram criados mais de mil sindicatos no país. E muitos deles se uniram. Em abril de 1906, por exemplo, o Rio de Janeiro, Capital Federal, foi palco do 1.° Congresso Operário Brasileiro. No ano seguinte, por força de decreto, foi autorizada a criação de sindicatos profissionais, mas eles teriam de atuar “sob o espírito da harmonia entre patrões e empregados”. Ou seja, capital e trabalho deveriam andar de braços dados.
A luta estava concentrada na redução da jornada de trabalho para 8 horas, conquista que os trabalhadores da Europa já desfrutavam.
A imigração foi fundamental para os avanços. Em 20 anos, o Brasil tinha recebido quase 2 milhões de imigrantes e, com eles, os novos ventos, a certeza de que o trabalhador tinha direitos. Tal reconhecimento, na Europa, custou mais de um século de lutas.
– Um século? Chega, tô deveras cansado, até amanhã – justificou Beronha, batendo em retirada da mansão da Vila Piroquinha.

ENQUANTO ISSO…


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