Navegação de Cabotagem, de Jorge Amado: você começa a ler e não consegue parar. Assim, chegando à página 254, temos um episódio no aeroporto de Lisboa, em 1953.
Jorge voltava de Moscou, onde recebera uma homenagem, mas, “escritor maldito, sem direito a visto de entrada, via-me limitado à sala de trânsito nas sucessivas viagens que entre 1952 e 1960 realizei à Europa”. Em Lisboa, estava à sua espera o amigo Ferreira de Castro – entre outros escritores.
No jantar na sala de trânsito do aeroporto, Jorge comenta com Alves Redol, um dos amigos, um escritor:
– Muitos fotógrafos, hein…
– Um é nosso, os outros são da PIDE.
Após o jantar, prossegue Jorge, “embarquei de coração repleto; no aeroporto a polícia salazarista cerca, detém, interroga promotores e convivas do jantar”.
Perseguição sem trégua
Para quem não sabe, ou esqueceu, em 1926 um golpe militar (civil militar, por supuesto) mergulhou Portugal numa longa ditadura. Em 1945, no dia 22 de outubro, no auge do Estado Novo, foi criada a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). Que perseguia quem fosse considerado inimigo do regime salazarista. Os subversivos de então iam parar em prisões como as dos Fortes de Caxias e de Peniche – ou a do Tarrafal, na ilha de Santiago, arquipélago de Cabo Verde.
E, com o passar dos anos, o tal gajo Antônio de Oliveira Salazar foi ascendendo, virou ministro e chegou ao poder supremo. E a ditadura salazarista só seria abolida a 25 de abril de 1974, por um movimento (militar) pacífico, a Revolução dos Cravos.
ENQUANTO ISSO…
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