Apesar de toda a globalização que campeia por aí, com seu interminável chorrilho de informações, há certos esportes que não entram na cachola de muitos brasileiros. São jogos complicados, duro de entender. Mesmo assim, boa parte desses desportistas não abre mão dos palpites. Algo bem nosso.
– Até quando se trata de fissão nuclear ou evolucionismo versus criacionismo, a turma não perdoa. Mete o bedelho.
Caso recente, ocorrido no Bar VIP da Vila Piroquinha: mal tinha começado uma partida de hóquei no gelo, pela Liga dos Campeões da Europa, no Scandinavium, Gotemburgo, Suécia. Frolunda (trema no O), equipe sueca, contra Karpat, da Finlândia. Karpat com trema nos dois A. Sob um frio intenso, o que, no entanto, não impediu que o ginásio ficasse lotado. Logo de cara, um problema. Na beirada da quadra. Apesar dos esforços para eliminar uma rachadura, o jogo ficou interrompido por um bom tempo, até que a TV, para cumprir o horário da grade de programação, mudou de assunto. Abalizado comentário de um freguês:
– Pomba, é tão simples. Por que não abrem as portas do ginásio? Com a neve lá fora, a quadra volta a ficar congelada…
Piscina de água congelada?
Conforme apurou a Seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog (e com ajuda do Flávio Stege Júnior, o underdog do Luzitano), há quem acredite que pistas de patinação e quadras de hóquei não passam de “uma grande piscina cheia de água congelada”. Simples por demais, não é? Na verdade, o que temos abaixo da camada de gelo são mais quatro camadas de materiais para auxiliar o processo de refrigeração.
De baixo para cima, a primeira camada, maior e mais funda, contém brita e areia. Ela canaliza a água que provém das outras camadas para remetê-la ao sistema de drenagem.
A segunda camada é de concreto. Detalhe: é preciso manter esse concreto aquecido para que a água que estiver no subsolo não congele e se expanda. Caso isso ocorra, os pisos serão empurrados para cima, causando rachaduras na pista.
A terceira camada é composta por um material isolante térmico. Mantém a temperatura da quarta camada em um nível ideal, assim como a temperatura da camada de concreto aquecido, sem que ela seja afetada pela temperatura da quarta camada, que é fria.
A quarta camada é fundamental para “manter o gelo congelado”, pois ela funciona de modo parecido com a segunda, também feita de concreto, porém, no interior desse concreto existem canos para escorrer uma água especial, a chamada água dura (uma solução de cloreto de cálcio), que resiste a temperaturas mais baixas, capacitando a mesma a manter-se no estado líquido em temperaturas abaixo de zero grau. Um sistema de refrigeração abaixo da arena mantém a água dura em uma temperatura ideal, que pode variar de acordo com a temperatura ambiente do lado de fora do estádio, inaugurado em 1971. A água resfriada corre pela tubulação mantendo a quarta camada resfriada e garantido que a água que se acumular sobre ela congele a uma temperatura entre 4 °C e 4,5 °C.
Por fim, a quinta camada é o próprio gelo em que jogadores e a arbitragem se apresentam.
Complicado, mas funciona. Até porque de nada adiantaria manter abertos os portões para “o frio congelante entrar”.
Em tempo, e a quem interessar possa: sem televisão, a partida foi reiniciada e terminou com a vitória do Frolunda (aqui tem trema) por 4 a 2.
ENQUANTO ISSO…