Diante das homenagens a Hideraldo Luís Bellini, o grande capitão também em sua passagem por Curitiba, talvez só restasse lembrar que a boa semente dá bons frutos. Em sua despedida, por exemplo, num Atletiba, o clássico terminou de modo festivo. Dos dois lados. Aplausos gerais e irrestritos ao jogador. Não é qualquer um que conseguiria tal façanha: atleticanos e coxas batendo palmas ao mesmo tempo. Lado a lado.
A estreia, então estréia com acento, já que estávamos em 1968, foi contra o Londrina. Uma cena ficou gravada da mente dos torcedores: no sufoco atleticano, Bellini mata a bola no peito e arranca para o campo adversário. À medida em que o zagueirão avançava, parecia que os adversários iam abrigando espaços para dar passagem a alguém intocável. Graças à investida, o Atlético conseguiu arrancar um empate (1 x 1).
O capitão e o grande general
Eleito presidente do Atlético em 1967, Jofre Cabral e Silva tinha grandes desafios pela frente. Prometera formar um grande time, para apagar fracassos da década de 60. Reuniu grandes nomes do futebol brasileiro, entre eles Bellini (que iria completar 38 anos), Djalma Santos e outros craques. Promoveu uma revolução no clube e, por extensão, no futebol paranaense. Faltaram títulos, mas o torcedor rubro-negro voltou a sorrir e ostentar confiança no futuro.
Bellini, como também se sabe, não era o que se chama de jogador técnico. Compensava isso, no entanto, com o vigor físico, excelente impulsão, ótimo posicionamento e forte espírito de liderança. Mesmo bicampeão mundial (58 e 62), consagrado mundialmente, não perdia a humildade. “Tratava a todos de modo igual, desde o juvenil até o presidente do clube”, conforme atestam inúmeros (e insuspeitos) depoimentos.
Ao deixar o futebol, ficou responsável pelas escolinhas de futebol do São Paulo.
Erguendo a autoestima nacional
O jornalista Antero Grecco escreveu, em crônica no jornal O Estado de S. Paulo, assinala que “talvez o jogador nem tivesse ideia ou percebido a importância simbólica daquele seu gesto na conquista do Mundial de 1958, na Suécia. Não sei se alguma vez Bellini teve consciência do que representou o gesto de erguer sobre a cabeça a Jules Rimet (…). O capitão levantava a autoestima nacional, cabisbaixa desde a derrota para o Uruguai, na maldita decisão de oito anos antes. Ele mostrava ao mundo que, enfim, uma grande escola era premiada, reconhecida, e fazia os adversários se dobrarem a seus pés”.
Outro registro da imprensa: “Em 1990, Bellini se dedicou a transmitir para as novas gerações o seu amor pelo futebol, ensinando o esporte para a garotada em uma escolinha da prefeitura, no bairro do Ibirapuera, na capital paulista”.
Além de atleta exemplar, um cidadão exemplar.
ENQUANTO ISSO…