Depois de ler – acidentalmente – duas notícias, Beronha bateu à porta da mansão da Vila Piroquinha.
– Estou deveras preocupado – abriu o jogo para Natureza Morta, que estranhou o comportamento do nosso anti-herói de plantão.
– Do que se trata, exatamente?
– Cerveja e política.
– Uma mistura geralmente não recomendável – brincou o solitário da Vila Piroquinha.
O que Beronha leu na briosa, brava e indormida imprensa: a PF apura indícios de fraude em filiação de deputados ao PSD carioca; a maior cervejaria do mundo está prestes a fechar o que pode ser uma das maiores transações do planeta.
Vamos por partes
Sobre o novo partido, o PSD – Partido Social Democrático -, há suspeita de que deputados estaduais adulteraram documentos para que aparecessem como fundadores da agremiação.
– Assim, não perderiam o mandato por infidelidade partidária – explicou Natureza, acrescentando que Índio da Costa, aquele mesmo, liderança do PSD fluminense, convenceu uma dezena de deputados a embarcar no partido. Com a debandada, parlamentares teriam adulterado as fichas de filiação, colocando data retroativa.
No mês passado, o TSE concedeu registro e liberou o PSD, partido idealizado pelo prefeito Gilberto Kassab, para disputar eleições de 2012. O objetivo é pôr fim ao “reinado” do PMDB.
E a cerveja, o que rola?
A AB InBev, dona do pedaço, negocia a compra da SABMiller, a segunda maior cervejaria do mundo.
– Um negócio que envolve algo perto de US$ 80 bilhões – informa Natureza.
Caso se concretize a compra, a AB InBev, que controla a Ambev – terá um terço do mercado de cerveja do planeta.
Segundo especialistas…
– Em cerveja? – quer saber o já aflito Beronha.
… segundo especialistas e observadores do mercado, as duas cervejarias, tirando os EUA e a China, são complementares. Três anos depois de ter abocanhado a Anheuser-Busch, dona da marca Budweiser, a companhia já quitou o montante que estava previsto para ser pago em cinco anos.
No Brasil, a primeira investida foi em cima da Brahma. Em 1999, a Brahma juntou-se à Antarctica, surgindo a Ambev.
Cerveja? Nem quente nem gelada
Coincidência ou não, começaram aí os problemas de distribuição da cerveja, para desespero dos botecos e pequenos estabelecimentos. Desespero nas hostes dos proprietários e, principalmente, dos consumidores, é claro. E a empresa, lavando as mãos quanto a atrasos e falhas na entrega, jogava a culpa na logística – concluiu Natureza. Afinal, a culpa é sempre da ruela da engrenagem,
Beronha concordou:
– É, e faltar cerveja é um caso de ameaça à segurança nacional. No verão passado foi um drama. Neste ano, em plena primavera, já há escassez do “abençoado líquido”. Imagine no verão, então?
Precavido, nosso anti-herói já decidiu: trata de consumir a sua cota antecipadamente.
A do verão de 2011 e a da Copa de 2014, esta última “por via das dúvidas”.
Mas, das duas notícias, qual a mais preocupante para Beronha?
– A segunda, é claro. A política brasileira a gente já conhece há muito, muito tempo. Vem com defeito de fábrica. E não há logística que resolva. No primeiro caso, bons tempos em que valia a máxima “quem não é o maior tem que ser o melhor”.
ENQUANTO ISSO…