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O 1.º de abril no dia 2

Brasileiro, maior, casado, homem de teatro, de cinema e da MPB (é autor da letra de “Amélia”), Mário Lago não perdia tempo: preso no dia 2 de abril de 1964, “pelo simples crime de ser livre e democrata”, deu sua resposta rapidamente. E em forma de livro. Contando “Estórias para a História”, registra os 58 dias que passou nas “hospedarias” do DOPS carioca.
Afinal, “os cárceres, se imobilizam os corpos, não prendem as ideias e não matam a liberdade”, como bem lembrou o editor Ênio Silveira, na apresentação do livro – Editora Civilização Brasileira.

Cabeça(s) a prêmio

Acompanhando o autor dos textos, Ênio Silveira deu prova de coragem: lançar livro logo após o golpe civil-militar, e citando Stanislaw Ponte Preta logo de cara (“A revolução está descambando para o perigoso terreno da galhofa”), era colocar o pescoço na guilhotina. Ou na baioneta calada.
Basta ver que muita gente enfrentou perseguição de imediato, vítima do dedodurismo que logo se institucionalizaria. Sempre uma “provação ao sabor de um capricho, de um recalque ou da delação que os eternos covardes façam aos momentaneamente poderosos”.

O “subversivíssimo” Chico

Mario Lago, entre outros casos de gente que foi presa e torturada sem mesmo saber o motivo que aciona os beleguins e outros prepostos, conta a história de Chico: ele encontrou um monte de livros largados numa calçada (“desova” de alguém na mira da ditadura). Como vivia de pequenos biscates, achou interessante vender os tais livros. Foi preso. Os livros eram de autores “altamente subversivos”.
Ficou conhecido atrás das grades apenas como Chico.
– Tão Chico que, Francisco, nele, seria apelido – assegura Mario Lago.

Modéstia à parte, o nosso Krupp

Outro companheiro de cadeia foi Antônio Quaresma, testemunha do ataque à seda UNE – União Nacional dos Estudantes. Quaresma era maquinista de teatro e testemunhou a invasão e o incêndio.
Construía com tal perfeição armas de madeira para peças de teatro que virou suspeito e foi em cana. Um dia lamentou para Mário Lago:
– O teatro do CPC ia ficar uma beleza.
Para quem não sabe, ou perdeu a memória junto com o incêndio, CPC era o Centro Popular de Cultura.
Dor em dose dupla (ou tripla, posto que também apreenderam suas armas de madeira): arrastado para o camburão, Quaresma perdeu a mala das ferramentas, seu instrumento de trabalho.
Pausa, posto que ninguém é de ferro. Mas a história com as estórias de Mario Lago continua amanhã.

ENQUANTO ISSO…


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