Para gáudio da velha guarda e um certo espanto seguido de deslumbramento dos mais jovens, os canais ESPN vêm exibindo uma série de documentários em projeto criado com o Canal 100. Serão 10 programas. O projeto tem o patrocínio da Petrobras.
Carlos Niemeyer, o criador do Canal 100, começou a fazer cinema nos anos 1950, produzindo, em parceria com Jean Manzon, documentários sobre o Rio de Janeiro. Oito anos depois fundaria a sua própria produtora, que se especializou em cinejornal. Era o Canal 100. De 1959 a 1986 levaria às telas um cinejornal por semana. Resultado: um acervo impressionante, a começar pela qualidade, com aproximadamente 70 mil minutos de imagens.
A escolha do nome
Canal 100 remetia para a televisão, que era identificada pelo número dos canais. Na câmera, Francisco Torturra, simplesmente genial. Do mesmo modo que o samba de Luis Bandeira, Na Cadência do Samba, utilizado na sua trilha sonora, marcante até hoje.
No Maracanã, mostrava, com cortes precisos, as reações faciais de torcedores, principalmente daqueles que ficavam junto ao fosso, bem perto do campo, a então chamada Coréia, com acento, já que se tratava de uma terra de ninguém. Uma das imagens que ficaram na memória da plateia: a de um cabôco magro e desdentado, mais feio que briga de foice no escuro, e que não parava de pular e gritar. Não que estivesse sabendo que estava sendo filmado e, assim, procurando se exibir para a câmera.
O golpe fatal
Em 1985, durante o plantão do general Figueiredo, o Ministério da Cultura, por força de lobistas da indústria do cinema americano, decretou o fim do Canal 100. Simples: o governo proibiu a propaganda comercial em cinejornais, inviabilizando a produção nacional. O Canal 100 era posto em xeque (ou cheque, como prefere o Beronha, no caso com uma boa dose de razão) e, com ele, um estilo brasileiro de fazer cinema.
Mas, felizmente, ou menos mau, o acervo foi preservado. E continua dando um show de bola. E de cinema, por tabela.
ENQUANTO ISSO…
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