Por conta da Copa, visitantes já formam um contingente visível na cidade e, como a turma tende a aumentar ainda mais, professor Afronsius já está preparado para atender os turistas. Caso pretendam decifrar o Brasil. Não o futebol do Brasil.
– Leiam! Leiam História do Brasil, do poeta Murilo Mendes.
Um dos expoentes do surrealismo brasileiro, nunca deixou de lado a ferramenta do humor. Basta ver (ou ler) o poema-piada Homo Brasiliensis, no qual proclama, em alto e bom som:
– O homem é o único animal que joga no bicho.
Pinzón descobriu o Brasil
Um texto de Marcello Scarrone, na edição de outubro de 2007 da Revista de História da Biblioteca Nacional, conta que História do Brasil foi publicado em 1932, pela Editora Ariel. E, lá, eis que temos: Tiradentes numa cadeira elétrica; Antônio Conselheiro enfiado na igreja por seis meses enquanto o Exército dispara tiros contra Canudos; Pinzón é quem descobre o Brasil, mas a colônia portuguesa paga o Caminha para difundir outra versão. Ou seja, “a história nacional virada de cabeça para baixo, seus protagonistas retratados de forma irônica e irreverente, os fatos mais importantes revisitados com humor!”
Frutas a cem mil réis
De Murilo Mendes, numa espécie de canção do exílio, sem sair do país:
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil-réis a dúzia.
Outro verso de MM:
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
O autor! O autor!
Murilo Monteiro Mendes nasceu dia 13 de maio de 1901, em Juiz Fora, Minas Gerais. Aos 9 anos diz ter tido uma revelação poética ao assistir a passagem do cometa Halley. Em 1920, vai para o Rio. Destino comum, na época. Foi arquivista do Ministério da Fazenda e funcionário do Banco Mercantil. Nesse período publica poemas em revistas modernistas como Verde e Revista de Antropofagia. Seu primeiro livro, Poemas, é publicado em 1930. Leva o prêmio Graça Aranha. Converte-se ao catolicismo em 1934. Torna-se inspetor de ensino em 1935. Em 1940, conhece Maria da Saudade Cortesão, com quem se casaria em 1947. Com tuberculose, é internado em sanatório na região de Petrópolis, em 1934. Em 1946, torna-se escrivão da 4ª Vara de Família do (então) Distrito Federal. Cumpre missão cultural na Europa, proferindo conferências. Muda-se para a Itália em 1957, onde se torna professor de Cultura Brasileira na Universidade de Roma. Foi também professor na Universidade de Pisa. Seus livros são publicados na Europa. Em 1972, recebe o Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina. Vem ao Brasil pela última vez. Murilo Mendes morreu em Lisboa no dia 13 de agosto de 1975.
De Paraibuna a Juiz de Fora
Sobre a sua cidade natal, Juiz de Fora, professor Afronsius foi beber em várias outras fontes. Juiz de Fora era um magistrado, nomeado pela Coroa Portuguesa para atuar onde não havia juiz de Direito. Alguns estudos indicam que um juiz de fora esteve de passagem na região e ficou hospedado por algum tempo numa fazenda que, mais tarde, próximo a ela, surgiria o povoado de Santo Antônio do Paraibuna. Que, na sequência, viraria Juiz de Fora.
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