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O calor, sem censura
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Na tarde de quarta-feira, a sensação térmica em Antonina beirou os 52ºC. E foi o terceiro dia seguido em que a marca ficou acima dos 50ºC. Ao saber disso, há quem tenha citado Rio, 40 Graus, 1955, o primeiro longa-metragem de Nelson Pereira dos Santos. Até porque tempo quente mesmo era com a censura. Em agosto, ela liberou o filme. Para maiores de 10 anos. Um mês depois, o chefe de polícia, coronel Geraldo de Menezes Cortes, entrou em cena, proibindo a exibição do filme em todo o território nacional.

Ao justificar a proibição, alegou que não fazia 40 graus no Rio e o filme tinha como objetivo “a desagregação do país”, já que, segundo ele, só apresentava “os aspectos negativos da capital brasileira”. Mais: foi feito com tal esmero “que serve aos interesses políticos do extinto PCB – Partido Comunista Brasileiro”.

Os jornais Correio da Manhã e Última Hora revelaram que o coronel não tinha visto filme. A proibição viera de uma denúncia anônima. O PCB, embora banido desde 1948, estaria por trás da produção do filme.

Personagens indesejáveis

Na edição de março de 2010, a saudosa Revista de História da Biblioteca Nacional ia além, em texto assinado pelo pesquisador Alexandre Octávio R. Carvalho:

– A justificativa do diretor de Censura, Lafaiette Stocker, endossando a decisão do coronel Geraldo de Menezes Cortes, era ainda mais pífia. Ele argumentava que uma cena poderia “desagradar a uma nação amiga”, referindo-se à participação de duas personagens representando turistas americanos.

Ainda do texto do pesquisador:

– Passado em um domingo de verão, o filme traz como personagens principais cinco meninos negros que vivem no Morro do Cabuçu, na Zona Norte, e vendem amendoim em pontos turísticos da cidade, como o Corcovado, o Pão de Açúcar e Copacabana. Os atores mirins foram escolhidos no próprio morro. A mistura de ficção e realidade trouxe às telas os contrastes sociais que incomodavam muitos setores da classe média, cuja cultura rejeitava a pobreza como tema de cinema.

Contrastes sociais que incomodavam e continuam incomodando muitos setores da classe média e da Casa Grande.

ENQUANTO ISSO…

 

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