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Mais conhecido como Cuíca de Santo Amaro, José Gomes, um terrível cordelista baiano, ganhou documentário e destaque na 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Suas crônicas de cordel, da década de 1930 até os anos 1960, espalhavam fofocas, segredos de alcova, traições amorosas e tudo que cheirasse a escândalo.
Com a devida distância, começando pela geográfica, Curitiba também teve o seu Cuíca. Menos retumbante e inspirado, é verdade, mas nem por isso deixou de ser temido em algumas rodas e círculos, nos anos 1960/1970. Era o autodenominado Repórter Noturno.

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Do cordel ao mimeógrafo

Por conta de escândalos, custo de vida, segredos de alcova e traições amorosas, Cuíca de Santo Amaro teria produzido cerca de 100 mil folhetos, ilustrados por Sinésio Alves. As histórias eram disputadas nas feiras de Salvador e junto ao Elevador Lacerda. Josias Pires e Joel de Almeida, autores do documentário, contam que “Cuíca era um sujeito muito visível. Qualquer pessoa que circulasse pela cidade tinha notícias dele, porque ele gritava poesias, livrinhos, anúncios na rua”.
Já o Cuíca curitibano atacava com páginas mimeografadas que, na “calada da noite”, eram afixadas com cola em paredes e portas da Boca Maldita e do Alvoradinha, pontos de encontro de jornalistas, políticos, empresários, intelectuais e “vultos eméritos da capital”. Não economizava apelidos, partindo de algum defeito físico ou ponto fraco da alma das vítimas.

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Ataque aos “antros de perdição”

Além disso, o RN fazia comícios diante de hotéis (na época não havia ainda motéis) de “alta rotatividade”, denunciando, altas horas da noite, o muito frequentado estabelecimento como “antro de perdição”.
Ação, reação. Não demorou muito e o alvo mudou. A alça de mira passou para outro atirador. E ele, o Repórter Noturno, virou vítima. Viu-se forçado a abandonar as tradicionais rodas de bate-papo da Rua XV.
Até porque já vítima de safanões e bifas à luz do dia. Num dos casos, foi arremessado contra uma porta de aço.

Da informação à extorsão

Pelas memórias coletadas para o filme sobre o Cuíca de Santo Amaro, conta o diretor que fica também patente o papel de “jornalista extorquista” do poeta e comunicador de rua. Tanto que, não raras vezes, também louvava, ou incensava, os poderosos, “sobretudo quando se trata daquilo que chama de matéria paga”.
No documentário, o depoimento do jornalista Mino Carta. Para ele, Cuíca, à medida que começou a aceitar dinheiro para ficar quieto, “se fez pioneiro de certo tipo de corporação jornalística atual, que merece suspeita antes do que admiração”.
Para muitos, ontem como hoje (e amanhã?), o jornalismo não é profissão, mas uma gazua.
Qualquer semelhança, passada, presente ou futura, não se trata de mera coincidência.

ENQUANTO ISSO…

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