Dia desses, por necessidade imperiosa (ou imperial, como ele prefere), Beronha embarcou num ônibus. O vermelhão dos tubos. Nada demais, é claro, mas viveu momentos de desconforto.
– Não propriamente por estar lotado, mas por causa de alguns passageiros – tratou de explicar nosso anti-herói de plantão.
Havia, por exemplo, uma mulher com uma bolsa grandona pendurada no ombro esquerdo. Parecia mala de caixeiro viajante. Na mão direita, portava um capacete. Capacete de motoqueiro. Ou seja, ocupava o espaço de três pessoas. Uma barricada no meio do corredor.
No tubo seguinte, empurrão pra lá e empurrão pra cá, eis que adentra ao coletivo um cidadão.
– Qual o problema? – quis saber Natureza Morta.
– O problema não era ele, o sujeito que vinha do supermercado, mas o galão de água. Galão de 20 litros. Cheio.
Mudando de cenário
Vai daí que o solitário da Vila Piroquinha deu outros exemplos de coisa errada em momento mais errado ainda. A turma da inconveniência constante, persistente.
Em plena apresentação da premiadíssima Tradidional Jazz Band, um espectador pede e insiste: Rock! Rock!
Como se sabe, o grupo é uma das mais expressivas bandas de jazz do mundo. Com trabalho está cadastrado no Smithsonian Museum de Washington, Jazz Museum da Louisiana e no Jazz Museum de New Orleans, com discografia catalogada. Já se apresentou nos maiores festivais de jazz do planeta, incluindo o berço do jazz, New Orleans.
– Mas o rapazola queria porque queria ouvir rock.
Corte rápido: mais do que atento, o público acompanha “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick.
A exceção: no meio da plateia, um casal não para de comentar.
– Nossa! De novo o tijolo preto!?
– Parece um Toblerone. Sem invólucro, de pé e visto de costa…
Era o famoso monólito.
Algum tempo depois, novamente no cinema: “Psicose”, de Alfred Hitchcock. Marion (Janet Leigh) liga o chuveiro para a famosa cena do banho.
Alguém não se contém, comenta em voz alta:
– É agora que vai aparecer a velhinha e matar a moça!
Outro alguém, da poltrona ao lado:
– Velhinha coisa nenhuma! É o Norman Bates fantasiado com a roupa da mãe…
Outra sessão de cinema. “Sete Homens e um Destino”, de John Sturges.
No tiroteio final, o comentário implacável, plenamente audível:
– Vai morrer quase todo mundo. Só vão escapar vivos o Yul Brinner, o Steve McQueen e o Horst Buchholz… Eu já vi esse filme.
Natureza:
– Chato é a única categoria permanentemente de plantão. 24 horas por dia. Para todas as circunstâncias.
ENQUANTO ISSO…