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O já visto – mas não aprendido

Não é de hoje. Deve ser um gêniozinho que fica lá de plantão bolando nomes para as operações da Polícia Federal. Alguns dão nó na cabeça, como diz Natureza Morta, torcendo, no entanto, que o nó mesmo, pra valer, seja dado no cadeado do xadrez para onde a bandidagem vai (ou deveria) ir. A mais recente é a Déjà Vu. Já tivemos as operações Têmis e Hurricane, para apurar a venda de sentenças judiciais favoráveis a jogos clandestinos.

– Têmis? Nunca ouvi falar, comenta Beronha. Não seria por acaso Operação Tênis? Operação Tênis… Tênis Velho? Quer saber o anti-herói.

Prosseguindo: Operação Sanguessuga, no caso da compra superfaturada de ambulâncias. Hidra: combate ao contrabando. Anaconda, para apurar a venda de sentenças judiciais.

– Anaconda? (Beronha de novo). Essa eu conheço, vi o filme duas vezes…

Prosseguindo 2: Operações Águia e Planador, contra o tráfico internacional de drogas. Zaqueu (corrupção nas delegacias do trabalho); Matusalém e Zumbi (fraudes na Previdência); Lince (extração ilegal de diamantes); Lince 2 (adulteração de combustíveis e roubo de carga); Farol da Colina (remessa ilegal de dinheiro para o exterior); Soro (falsificação de leite em pó); Sucuri e Trânsito Livre (facilitação de contrabando); Pandora (extorsão em cima de empresários); Vampiro (fraude em licitação de hemoderivados); e Isaías (extração ilegal de madeira), entre outras.

Já cansado, Beronha decide abrir o jogo e dar o serviço: “Chega! Eu me entrego, conto tudo!” Refeito do próprio susto, tenta consertar, suando frio:

– Brincadeirinha, viu… Foi lapso de língua…

Sobre a mais recente operação, a Déjà Vu – para pegar a turma que desviava recursos públicos por meio de contratos com prefeituras paranaenses e organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) -, Natureza traduziu para o anti-herói: quer dizer “já visto”, algo já conhecido.

Reforma da reforma

Mas, ao noticiar as investigações da PF, a brava e indormida imprensa não chegou a um consenso quanto à grafia. Saiu déjà vu, dejavu, déjà-vu e até deja-vu. A nossa reforma ortográfica abrangeu também a França? Onde encontrar a resposta? O melhor caminho é o de sempre: bater à porta de quem entende. No caso em epígrafe, Natureza recorreu à professora Julieta Dias Camargo, formada em letras pela Universidade Federal do Paraná – português e francês -, com formação específica na Aliança Francesa. Aliás, grau máximo na AF, grau Nancy (Universidade de Nancy). Ela é titular dos diplomas DELF e DALF, anteriores à reforma de setembro de 2005. Beronha:

– DELF e DALF? Parece dupla sertaneja universitária, lá das Europas…

Prosseguindo 3: DELF e DALF são diplomas do Referencial Europeu que estabelece os 6 níveis de competência para qualquer idioma. Para chegar ao Nancy é necessário passar pelo DELF DALF.

Assim, acertou quem escreveu Operação Déjà Vu – sem hífen e com acentos (segundo o Larousse) – e quem tascou Déjà-Vu com hífen (segundo o Robert). Larousse e Robert são os dicionários mais utilizados.

Intervenção final de Beronha: “Esse tal bolador de nomes deve pertencer à Academia Brasileira de Letras. Grau Naisci…”

E deixou a mansão da Vila Piroquinha cantarolando: “Naisci para bailar”…

ENQUANTO ISSO…


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