Sobre os mais esdrúxulos expedientes para livrar a cara de alguém, notadamente quando se trata de gente poderosa, com influência nos altos círculos (ou seriam circos?) do poder, uma coisa é certa. Disseminando a impunidade, o tal do “jeitinho” não é de hoje que impera pelas bandas de cá. Conversando com o professor Afronsius e Beronha, este preferindo usar o termo “mandrake” ao contrário de “jeitinho”, Natureza Morta citou um episódio de 1765. Cujo “jeitinho”, ou “mandrake”, veio de além-mar.
Um certo capitão Manoel
A seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, pinçou uma nota publicada pela Revista de História da Biblioteca Nacional, edição de outubro de 2007, na página Almanaque. Para quem não leu, ou não sabia: “O apadrinhamento e a impunidade fazem parte da tradição luso-brasileira”.
E conta, com o título “Assassino impune”, o caso de um certo capitão Manoel Sepúlveda, acusado em Portugal de ter assassinado um oficial inglês.
“Mas ele tinha boas relações. Em carta enviada em 1765 ao conde da Cunha, vice-rei do Brasil, o ministro português Mendonça Furtado (irmão do poderosíssimo marquês de Pombal) ordenou-lhe que acolhesse o militar na colônia, incorporando-o ‘em qualquer dos regimentos’ do Rio de Janeiro e ‘guardando inviolável segredo’ sobre o caso”.
Sob o novo nome de José Marcelino, “Sepúlveda foi bem acomodado no Rio, casou-se com uma carioca 23 anos mais jovem, teve sete filhos, tornou-se brigadeiro e depois governador do atual estado do Rio Grande do Sul. Seu passado em Portugal foi inteiramente esquecido”.
Conclusão do professor Afronsius:
– O castigo não veio a cavalo. A única punição foi o escracho, tardio, que levou no livro “Crônicas Históricas do Rio Colonial”, de Nireu Cavalcanti.
– Com replay na Revista de História da BN – completou o solitário da Vila Piroquinha.
ENQUANTO ISSO…