Assíduo frequentador da biblioteca pública da Vila Piroquinha, o professor Afronsius, dia desses, foi interpelado (diplomaticamente) pelo funcionário:
– Mas o senhor pega sempre o mesmo livro, há meses… Pensei que já tinha concluído a leitura.
– Já. A leitura e a releitura.
E explicou ao atônito interlocutor que estava lá por outro motivo:
– Pelo silêncio. Quanto mais sepulcral, melhor.
Tormentos modernos
Mais tarde, explicou no dedo de prosa junto à cerca (viva) da Vila Piroquinha, que, para ele, e “com todo respeito aos grandes inventores”, gênio mesmo não foi quem criou a biblioteca pública, mas um anônimo funcionário. Diante da expectativa de Natureza Morta e de Beronha (“Serei eu?”), arrematou:
– Foi o cidadão que produziu a primeira placa com o aviso silêncio.
O motivo da revolta (silenciosa) do professor Afronsius: não suporta mais o barulho. “Principalmente aquele que se tornou uma tortura diária, desde cedo, metódica, recorrente, sistemática, que penetra no cérebro como uma broca de dentista”.
Referia-se, especificamente, às tais lavadoras de alta pressão, para limpar pisos e calçadas, e o infernal soprador/aspirador de folhas.
– Mesmo no outono, há quem insista em acabar com as folhas no chão. Só para mostrar serviço. Azar do vizinho. Já não bastava o irritante aspirador de pó?
Ranzinza, ranheta ou rabugento, ele não deixa de ter lá sua razão. Se o silêncio vale ouro…
Das origens do ranzinza
Consta que o professor Afronsius nasceu e passou boa parte da vida no interiorzão. Mas a casa de sua família ficava no pé de uma cachoeira. Todo mundo era obrigado a falar alto.
Depois, no quartel, tinha um sargento que falava gritando. Gritava até em confessionário. Mais tarde, teve um colega de trabalho que parecia a mulher da cobra, aquela vendedora de bilhetes de loteria. “Trinta e três, trinta e três, é a cobra”.
– O Mário. Ficou conhecido como Mário Cachoeira…
Daí o merecido direito de até ouvir o silêncio.
Honra seja feita
Para fazer justiça a uma plêiade de inventores, Natureza aproveitou para citar alguns, como Wilhelm Schickard, o da primeira calculadora mecânica, isso em 1623; James Watt, o da máquina a vapor (1765), Alessandro Volta, Samuel Morse, Alexander Graham Bell, Thomas Alva Edison, os irmãos Lumière, Guglielmo Marconi, Santos Dumont, Landell de Moura, Tim Berners-Lee, o da Internet (1990)…
Intervenção do professor Afronsius:
– A turma do soprador/aspirador e da lavadora de alta pressão não entra nessa tua lista, pois não?
ENQUANTO ISSO…
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