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Reza a sabedoria popular que periquito come milho e papagaio leva a fama. De fato. Força de algum (ou alguns) lobby, segundo o professor Afronsius, que, cinéfilo de fim de semana, ficou indignado com o que viu. Ou melhor, leu.
No dedo de prosa junto à cerca (viva) da Vila Piroquinha, contou para Natureza que, lendo uma revista, deparou-se com a “informação”: junto à foto de David W. Griffith, dirigindo uma cena de “Consciência Vingadora” (1914), a legenda credita ao americano a criação do close e do travelling.
– Negativo. Negativo sem pretensão de trocadilho. Close, tudo bem, mas o travelling… Onde fica Promio, o da gôndola?

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De Veneza a Hollywood

Recorrendo a quem, de fato, conhece a história da chamada sétima arte (quais são as outras seis?), o professor Afronsius citou um livro de cabeceira: “Cinema – Entre a realidade e o artifício”, de Luiz Carlos Merten, Artes e Ofícios Editora, Porto Alegre, segunda edição, 2005.
Conta Merten que, no princípio, “cinegrafistas corriam o mundo em busca de imagens exóticas para saciar a curiosidade do publico”. Em duas décadas, a linguagem do cinema não cessou de evoluir. E muita coisa ocorreu por acaso. No início, como se sabe, a câmera era fixa, e as pessoas e objetos se mexiam diante dela.
“Mas, aí, um cinegrafista cujo nome ficou gravado para a posteridade – A. Promio – foi a Veneza e fez uma tomada com a câmera instalada dentro da gôndola que percorria os canais da cidade. Descobriu que o inverso também era verdadeiro: a câmera podia se mexer sem deixar de captar objetivos fixos ou em movimento. Nasceu, assim, o travelling”.

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O criador de tudo?

Sem tirar os méritos de David Wark Griffith, Merten ressalta que “muitos estudiosos discutem se ele criou mesmo tudo o que lhe atribuído ou se beneficiou de criações alheias para desenvolver o próprio mito”. A história do cinema começa mesmo com ele?
Seu grande mérito, segundo Merten, foi “sistematizar e integrar à produção hollywoodiana todas as novidades que andavam esparsas”. “O Nascimento de Uma Nação” (The Birth of a Nation), de 1915, seria, para muitos, o atestado de que foi o pai da criança.
Griffith criou o flashback em The Adventures of Dolly, introduziu o plano americano (ou plano médio – enquadramento dos atores na altura do joelho) em For Love of Gold e desenvolveu o princípio da montagem paralela em The Lonely Villa.
– Até aí, segue o baile. Ou segue o filme, mas não se faz justiça a Promio – tascou o professor Afronsius, fechando a cena, ou melhor, aplicando o recurso do fade-out.
– Fade o quê? – interveio Beronha, que acabara de chegar.
– É o escurecimento da imagem, aos poucos, até o escuro total, ao contrário do fade-in – explicou para o nosso anti-herói de plantão.
Mas, para não queimar o filme de Griffith, de novo sem trocadilho, o solitário da Vila Piroquinha aproveitou os créditos finais para dizer que o cineasta de Intolerância (Intolerance – Love’s Struggle Throughout the Ages), 1916, nasceu em La Grange, Kentucky, em 1875, e morreu em Hollywood, em 1948. Realizou 450 filmes, “450 verdadeiras lições de linguagem”, desenvolvendo técnicas narrativas “que ainda hoje são empregadas no cinema e na televisão”, conforme Luiz Carlos Merten.
Beronha:
– Prefiro sessão matinada…

ENQUANTO ISSO…