Caminhando com certa dificuldade, o professor Afronsius chegou para o dedo de prosa com uma explicação na ponta da língua. Ou à flor da pele, região lombar:
– Dor terrível. Coluna.
Quem corre maior risco de dor nas costas? Natureza Morta respondeu: tudo depende da idade e da profissão. Em geral, aumenta a sua incidência com a idade – 50% das pessoas com mais de 60 anos têm problemas de dor lombar.
– Idade e a profissão. Idade. Como ainda não cheguei lá, mas pretendo, em breve, no meu caso o que pesa é a profissão. Ponto de partida.
Questão de postura (sempre)
Contou que, no médico, um amigo, travou um diálogo quase telegráfico:
– De fato, seu problema é de coluna. Muito tempo trabalhando sentado… Origem: postura.
– Corporal?
– Não. Moral.
Professor Afronsius disse ter concordado:
– De fato, de tanto me curvar ao patronato e outros poderosos de plantão… Não há coluna vertebral que resista. Começou assim e, em casa – ou na caserna (“a patroa é um general comandante em chefe…”), caiu no segundo turno.
Sessão lamúrias
O vizinho de cerca (viva) prosseguiu seu relato: quando era jornalista, em SP, um certo diretor comercial enviou para a redação um release, altamente badalativo, de uma empresa. Não saiu publicado. No dia seguinte, o mesmo diretor estava furibundo: remeteu um exemplar do jornal com a cobrança, por escrito, na página de economia. Letras grandes, caneta Pilot ponta porosa:
– O que OUVE?!!
Recebeu de volta o jornal, com a resposta em letras maiores ainda:
– Desculpe, mas não OUÇO nada.
Acabou demitido. Ainda sobre o que “continua ouvindo”, invocou a cartilha “o que mais se ouve em casa”. Diariamente. No adendo de Beronha, “diariamente todos os dias”.
– O café (da manhã) tá pronto?
– Já arrumou a cama?
– Já lavou a louça? (ao meio-dia, com direito a repeteco às 18h30min…)
– E o Schnapps? Já foi fazer seu passeio matinal? Schnapps é o cachorro de estimação.
– Já estendeu a roupa?
– Desligou a máquina?
– Fumando escondido na sacada, hein? Apague o cigarro, vá fumar na esquina.
– Você precisa trocar o pneu do carro.
– Do meu?
– Não, do meu. Furou, acho. E veja se precisa botar gasolina… Aproveitando: ele está precisando de uma ducha. Uma ducha vai bem…
– Tá com as pernas quebradas? Mexa-se!
– Continua estressado?
– Sim. É o que me resta neste latifúndio…
– Não me venha com João Cabral de Melo Neto, “Morte e Vida Severina”…
Corte rápido, mudança de cenário. Estamos de volta ao consultório médico. Professor Afronsius novamente fustigado:
– Ah! Então é por isso que seu apelido no bairro é Capacho…
Consulta encerrada. E muito bem cobrada.
Receita que recebeu: uma grosa de emplastro Sabiá.
– Ainda existe?
– Não sei. Eu apenas receito. O jeito é você procurar. Deve ter na internet.
Ainda (ai!) sobre colunas
Na tentativa de mudar de assunto, o solitário da Vila Piroquinha pulou para outros tipos de coluna. Depois de fazer referência à quinta-coluna, e a Quisling, o ministro que “entregou” a Noruega aos nazistas, na II Guerra, aproveitou para receitar A Sexta Coluna.
– A Sexta Coluna?
– Sim. Livro de Roger Burlingame, Editora Civilização Brasileira, 1964. Nele, o escritor e historiador norte-americano aponta os métodos de grupos que tentam usurpar o poder. Vai do macarthismo ao assassinato de Kennedy. Como escreveu Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima), “é um livro dos mais dignos de leitura e meditação”.
– Obrigado. Você me empresta?
– Claro. O problema é erguer o braço e espichar o corpo na estante. O meu inimigo oculto mas dolorido, o Mister Ciático, incomoda pra cachorro – encerrou Natureza.
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